A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.

A possibilidade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ceder parte de terreno para assentados da Reforma Agrária ainda existe.
O terreno seria destinado a 18 famílias do assentamento estadual Integração Gaúcha, localizado em Eldorado do Sul, na Região Metropolitana, que foram afetadas após a enchente do ano passado. No entanto, não será a Estação Experimental Agronômica (EEA), como o governo do Estado, à frente da operação, havia sugerido inicialmente.
À coluna, a reitora da universidade, Marcia Barbosa, justificou a negativa da doação do espaço:
— A área é um ambiente altamente produtivo: ela produz conhecimento. O único pedaço que não é usado diretamente é o voltado para conservação do bioma Pampa.
Com 1,56 mil hectares, a EEA é o "braço direito" do ensino agrícola da Faculdade de Agronomia. A unidade funciona para apoiar diversos cursos, como Medicina Veterinária, Ciências Biológicas e Geociências. É lá onde se realizam aulas práticas, atividades de pesquisa e de extensão rural, dias de campo, eventos com produtores rurais e cursos técnicos.
A negativa da UFRGS, entretanto, veio com a sugestão de um outro lugar possível de se fazer a realocação dessas famílias: a unidade de Barro Vermelho, em Gravataí, que possui 70 hectares e é onde está situado o Laboratório de Metalurgia Física da instituição.
— Somos sensíveis à causa. Mantendo esse laboratório, no resto do terreno, podemos conversar. Mas, de novo, não estamos doando nada. Até porque não estamos em condição de doar nada para a ninguém. Podemos negociar, fazer troca de espaço ou mesmo vendê-lo — esclareceu a reitora.
Em nota, o governo do Estado informou que a nova área está sendo avaliada. Condutora do processo, a Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) solicitou informações complementares sobre o imóvel, como suas delimitações territoriais, e aguarda resposta da UFRGS, que, de acordo com Marcia, será enviada na próxima semana.
Por se tratar de assentados estaduais, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) informou, também em nota, que, "se a gestão estadual obtiver área adequada para reassentamento do grupo, o Incra apoiará administrativamente a ação, dentro de suas competências", com a possibilidade, inclusive, de compra de imóveis.
Entre os assentados do Integração Gaúcha, estão integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), o que motivou críticas de deputados estaduais e federais. Como resposta, o vice-governador Gabriel Souza publicou em uma rede social:
— Nunca pedimos “área para o MST”. Mantivemos contato com órgãos federais que possuem imóveis na região metropolitana de POA para avaliar possíveis áreas para realocar 18 famílias desabrigadas pela enchente, que estavam em uma área do Estado atingida pelas águas em Eldorado do Sul.