O sinal de que os russos pretendem criar um corredor humanitário, para a liberação de navios ucranianos com alimentos em troca do levantamento de algumas sanções, é o elemento mais recente no turbilhão de informações que chegam ao mercado global. A Ucrânia, quarto maior exportador de trigo e grande produtor de milho, diz ter um volume estocado de 22 milhões de toneladas de grãos colhidos na última safra. Eventual liberação dessa carga é um fator a ser considerado. Tanto que nos dois últimos dias a cotação do trigo na Bolsa de Chicago recuou.
O efeito disso, no entanto, é menor do que a preocupação que se tem com o horizonte futuro, diante dos impactos da guerra sobre o ciclo que está em andamento na Ucrânia.
— A oferta da safra 2023 está pesando mais, porque o volume de produção será bem menor — pontua Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do RS (Farsul).
A perspectiva de entrada do produto estocado está sendo "mensurada", como mostram os recuos. De toda forma, o patamar de preços do trigo segue sendo positivo, ressalta Luz. Analista da Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez Roque concorda:
— A questão de escoamento pesa, mas isso está precificado. Tem impacto, mas é pequeno. O que mais interessa é o que vai acontecer com a produção.
Em relação às cotações de soja, o efeito do conflito tem sido considerado mínimo — ontem, o valor do grão fechou com variações entre -0,31% e -0,71%, de acordo com o mês de vencimento do contrato.
A partir de junho, a questão climática na safra americana, que está em plantio, começa a ser olhada mais de perto, acrescenta Gutierrez. Pela primeira vez, os Estados Unidos tiveram uma estimativa de área de soja maior do que a de milho.
Para o economista da Farsul, neste momento, o mercado está sobrecarregado com informações, tendo um pouco de dificuldade de saber o que trazer para "a página inicial". Sobre o efeito conjuntural na safra de trigo do Rio Grande do Sul, que começa a ser cultivada, observa que o produtor está ciente de que tem uma oportunidade.
— Ele sabe que está faltando produto lá fora. Mas, por maior que seja o desejo de plantar, há limitações — pondera Luz, em relação à capacidade de plantio, que vai desde o preparo da terra até a disponibilidade de sementes para fazer frente a um avanço percentual grande.