Um dos principais diplomatas do governo da Rússia exigiu nesta quarta-feira (25) o fim das sanções contra Moscou para evitar uma crise alimentar mundial devido à interrupção das exportações ucranianas de cereais desde o início da ofensiva russa.
— A resolução do problema alimentar requer um ponto de vista compreensivo, que implica sobretudo o fim das sanções contra as exportações russas e as transações financeiras — disse Andrei Rudenko, vice-ministro das Relações Exteriores.
Ele também exigiu que Kiev "retire as minas" dos portos do Mar Negro para que os navios possam exportar cereais. O diplomata afirmou que a Rússia está disposta a "garantir um corredor humanitário" para as embarcações.
Antes da guerra, a Ucrânia era o quarto exportador mundial de milho e o terceiro de trigo. O conflito interrompeu o comércio e a agricultura. A Rússia é acusada pela Ucrânia e os países ocidentais de impedir as exportações de grãos pelo Mar Negro, o que aumenta o risco de uma grave crise alimentar global.
"Chantagem" por bloqueio de grãos
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, braço executivo do bloco, acusou a Rússia de realizar uma campanha de "chantagem" por meio do bloqueio de carregamentos de grãos ucranianos, ameaçando o mundo com uma possível escassez de alimentos. Ela acusou tropas russas de confiscar estoques de grãos e máquinas agrícolas ucranianas.
Segundo a presidente, a artilharia russa vem bombardeando armazéns de grãos e navios de guerra no Mar Negro e prendendo cargueiros ucranianos carregados de trigo e sementes de girassol, confiscando cerca de 20 milhões de toneladas de grãos na zona de guerra.
— A Rússia está acumulando suas próprias exportações de alimentos como uma forma de chantagem, retendo suprimentos para aumentar os preços globais e negociando trigo em troca de apoio político — disse Ursula, em discurso realizado em Davos, na Suíça.
Fome
As ações de Moscou despertaram memórias da fome na Ucrânia e em outras partes da União Soviética, no início da década de 1930, quando milhões de pessoas morreram, comentou a presidente da Comissão Europeia.
A queda acentuada nos embarques de trigo da Ucrânia, bem como as sanções a Moscou, que afetaram as exportações russas, levaram a uma crescente preocupação dos líderes mundiais com uma crise global de alimentos. A ONU diz que dezenas de milhões de pessoas devem ser empurradas para a fome extrema nos próximos anos.
A Ucrânia normalmente exporta 5 milhões de toneladas de trigo por mês, mas o número agora caiu para entre 200 mil e um milhão. O domínio naval da Rússia no Mar Negro e no Mar de Azov, bem como seu controle de portos como Mariupol, conquistado na semana passada, após um cerco prolongado, interromperam as exportações de grãos pelo mar. Líderes mundiais e o governo ucraniano agora tentam encontrar rotas alternativas.
A escassez de trigo vem pressionando o preço do pão em várias partes do mundo, provocando crises e instabilidades políticas. O governo do Paquistão caiu em abril. O do Sri Lanka, em maio.