Trabalhadores que escavavam os escombros de um prédio residencial em Mariupol encontraram 200 corpos em um porão, revelaram autoridades ucranianas nesta terça-feira (24) - um lembrete sombrio dos horrores que ainda vêm à tona nas ruínas da cidade que foi uma das principais frentes da guerra nos últimos três meses.
Os corpos estavam se decompondo e um fedor impregnava o bairro, disse Petro Andriushchenko, assessor da prefeitura de Mariupol. Apesar de o anúncio ter sido feito nesta terça-feira, não está claro quando os corpos foram descobertos.
Banhada pelo Mar de Azov, Mariupol foi implacavelmente atacada durante um cerco de meses que finalmente terminou na semana passada, depois que cerca de 2,5 mil combatentes ucranianos abandonaram a usina siderúrgica de Azovstal, último foco de resistência.
As forças russas já controlavam o resto da cidade, onde cerca de 100 mil pessoas permanecem, de uma população pré-guerra de 450 mil - muitas sem comida, água, aquecimento ou eletricidade.
Autoridades ucranianas disseram que pelo menos 21 mil pessoas foram mortas - e acusaram a Rússia de tentar encobrir a extensão dos horrores trazendo equipamentos móveis de cremação. Eles também alegaram que alguns dos mortos foram enterrados em valas comuns. Os ataques também atingiram uma maternidade e um teatro onde civis estavam abrigados.
O presidente ucraniano Volodimir Zelensky acusou os russos de travarem uma "guerra total", buscando infligir o máximo de mortes e destruição possível ao seu país.
O conflito começou com a expectativa de que a Rússia pudesse dominar o país em uma blitz que durasse apenas alguns dias ou algumas semanas. Mas a dura resistência ucraniana, reforçada por armas ocidentais, atolou as tropas de Moscou.
O Kremlin agora está focado no coração industrial oriental de Donbass - onde os separatistas apoiados por Moscou combatem as forças ucranianas há oito anos e ocupam faixas de território.
As forças russas intensificaram os esforços para cercar e capturar Severodonetsk e cidades vizinhas, a única parte da região de Luhansk que permanece sob controle do governo ucraniano, disseram autoridades militares britânicas na terça-feira.
As forças russas alcançaram "alguns sucessos localizados" apesar da forte resistência ucraniana em posições entrincheiradas, disse o Ministério da Defesa do Reino Unido, mas a queda de Severodonetsk e a área ao redor pode causar problemas logísticos para os russos.
"Se a linha de frente de Donbass se mover mais para o oeste, isso estenderá as linhas de comunicação russas e provavelmente fará com que suas forças enfrentem mais dificuldades de reabastecimento logístico", disse o ministério.
Dois altos funcionários russos pareceram reconhecer na terça-feira que o avanço de Moscou foi mais lento do que o esperado - embora tenham prometido que a ofensiva atingiria seus objetivos. O secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, disse em entrevista que o governo russo "não está perseguindo prazos".
Enquanto isso, o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, disse em uma reunião de uma aliança de segurança liderada pela Rússia de ex-Estados soviéticos que Moscou está deliberadamente desacelerando sua ofensiva para permitir a retirada de moradores de cidades cercadas - uma afirmação que vem no mesmo dia em que alvos civis foram atingidos.
Enquanto Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, se recupera de semanas de bombardeios implacáveis, os moradores formaram longas filas para receber farinha, macarrão, açúcar e outros alimentos básicos.
Galina Kolembed, coordenadora do centro de distribuição de ajuda, disse à Associated Press que mais e mais pessoas estão retornando à cidade depois que as forças russas se retiraram para se concentrar no Donbas.
Kolembed disse que o centro está fornecendo comida para mais de mil pessoas todos os dias — um número que continua crescendo.
— Muitos deles têm filhos pequenos e gastam seu dinheiro com as crianças, então precisam de algum apoio com comida — disse ela.
Enquanto isso, Kirill Stremousov, um oficial russo instalado na região de Kherson, na Ucrânia, disse que o governo pró-Kremlin pedirá a Moscou que estabeleça uma base militar lá. Anteriormente, Stremousov já havia declarado que a região deveria ser incorporada à Rússia.