Uma das consequências da guerra entre Rússia e Ucrânia, a escalada de preços do trigo é monitorada com atenção pelos moinhos brasileiros. A principal razão vem do fato de que o país não é autossuficiente na produção do cereal. Precisa trazer de fora 60% do que consome, aponta a Associação Brasileira das Indústrias de Trigo (Abitrigo). Em nota, a entidade se manifestou acerca do cenário atual. A partir desses apontamentos, a coluna lista as cinco maiores preocupações.
1) Alta na velocidade "da luz"
Mais do que a valorização da matéria-prima usada na fabricação de farinha, base de um grande contingente de produtos, do pão ao biscoito, é a velocidade com que acontece desde o início do conflito. Conforme a Abitrigo, do dia 8 de fevereiro para cá, a expansão foi de 35,7% nas cotações nos Estados Unidos, que trazem um efeito global. "A Argentina, nosso maior fornecedor, acompanha esta tendência. A escalada altista ainda não se estabilizou e continua em forte ascensão", diz o comunicado da entidade presidida por Rubens Barbosa .
2) Reação em cadeia
O peso da Rússia e da Ucrânia no fornecimento global, como maior e quarto maior exportador de trigo, respondendo por 30% dos embarques ou 210 milhões de toneladas do cereal, torna inevitável que a crise afete diretamente os preços mundiais. Se a guerra se prolongar, países importadores precisão concentrar as demandas nos demais exportadores, como Estados Unidos, Austrália, Canadá e Argentina. "Isto poderá manter os preços em níveis elevados", projeta a Abitrigo em sua nota. Condição que deve se manter nos próximos quatro ou cinco meses, com a estabilidade ou o recuo devendo chegar somente com a entrada da safra do hemisfério norte, entre julho e agosto.
3) Fretes na dianteira de custos
Como depende de produto externo, a indústria do Brasil precisa colocar na conta das despesas os valores com fretes. Segundo a Abitrigo, nos últimos dois anos, o mercado global de trigo "foi fortemente afetado por crises climáticas nos países líderes e pela covid, que impactou o posicionamento de estoques de segurança e fretes marítimos, cujos valores sofreram aumento de até três vezes".
4) Hermanos no compasso global
Embora o Brasil compre muito pouco trigo da Rússia, é igualmente afetado pela alta de preços. A régua já vem subindo em outros pontos do planeta, caso da Argentina, maior fornecedor brasileiro, onde se busca 85% do cereal que é importado. "Um fator que pode aliviar um pouco esse aumento, mas longe de ser significativo, é a queda no valor do dólar em relação ao real nos últimos dias", pontua a Abitrigo.
5) Oscilação até quando?
A imprevisibilidade em relação à duração e à abrangência da crise desencadeada é um fator que alimenta a oscilação de preços do trigo. Sobre o abastecimento, a Abitrigo aponta que o Brasil "não terá problemas de abastecimento do cereal no curto prazo, pois a Argentina já sinalizou ter trigo suficiente para atender as necessidades brasileiras, além de que o volume vindo da Rússia é muito pequeno e não temos registro de compras do trigo da Ucrânia", reforça, na nota.