A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Desde março, o Rio Grande do Sul conta com uma iniciativa potente para aproximar o campo das soluções tecnológicas que cada vez mais surgem para impulsionar o setor. É a Rede de Inovação no Agronegócio (Riagro-RS), que tem como casa o Tecnopuc, mas que reúne inteligência de 16 instituições parceiras para somar conhecimento, entre universidades e centros de pesquisa.
Engenheiro agrônomo de formação e coordenador da Riagro, Luís Humberto Villwock lidera a iniciativa com a expertise de quem conhece o agro de ponta a ponta, agora acrescentando o “i” de inovação ao currículo. À coluna, ele conta que o objetivo do projeto é identificar “as reais dores do agro”, fazendo com que a tecnologia seja acessível para qualquer produtor.
– O que não falta é trabalho para fazer e problemas reais para que os cientistas entreguem solução que seja viável, entendível e aplicável para o produtor rural – diz.
Conheça mais sobre a iniciativa e o trabalho do profissional:
Como nasceu a Rede de Inovação do Agronegócio do RS?
A rede foi estimulada por um edital do governo do Estado, do Inova-RS, que através da Fapergs lançou um edital de promoção de redes de inovação tecnológica, chamado projeto RITEs. Como estávamos já desenvolvendo toda uma área de tecnologia para o agro dentro do Tecnopuc, fomos buscar nos relacionamentos com outras instituições de ciência e tecnologia (ICTs) do Estado parcerias para submeter a esse edital. Em dois meses, conseguimos reunir 16 ICTs. Com isso, organizamos uma pauta, ou seja, o que iríamos fazer juntos nesse processo, e conectamos os principais parques tecnológicos que têm relação com o agro no sentido mais amplo.
Antes do edital, então, já existia um trabalho na área. Por que o agro?
O agronegócio não é só a área rural, ou só a agropecuária. Ele começa na produção de insumos, de máquinas, de sementes, passa pela área agrícola das propriedades, e depois tem todo um processo de direcionamento das agroindústrias até chegar na mesa do consumidor através das cadeias de varejo e assim por diante. É um universo muito amplo e é o principal motor da nossa economia. Em torno de 25% a 30% do PIB vem dessa área. É um segmento muito importante para a geração de riqueza, de emprego, alocador de recursos humanos, diferentemente de outras indústrias que já estão muito automatizadas. Hoje, vemos problemas da economia em grandes cidades, mas o Interior bastante pujante porque o agro puxa todo o resto, e isso chega ao dentista, ao médico, ao advogado... todos se beneficiam dessa cadeia longa de oportunidades.
O que pretende a Riagro-RS juntando todos esses atores?
Estamos fazendo um mapeamento dos potenciais que temos, do número de empresas que estamos fomentando, as chamadas Agtechs, ou as startups do agro. O que cada uma está conseguindo fazer junto aos seus estudantes, professores ou mesmo empresários locais. Esse é o primeiro momento, uma radiografia, que queremos até o final do ano ter muito bem descrita. O segundo momento é começar a construir lógicas de parcerias entre esses atores. Juntar através de encontros e criar uma camada de apoio e proteção para que iniciativas em estágios iniciais possam ter um solo fértil para crescer e prosperar. Uma terceira questão é, através da própria rede, identificar as reais dores que o agro tem. Vamos ao encontro do demandador, daquele que precisa de um apoio, e partir dessa aproximação aumentar a chance de sucesso desses talentos.
Que barreiras ainda são necessárias romper?
Um dos grandes problemas que temos é que os produtores, sobretudo os pequenos e médios, estão muito ariscos às novas tecnologias. De fato, é complicado, são vários parâmetros, tem de regular vários fatores. Eles sabem que é vantajoso, mas não se metem porque não vão saber mexer. Quanto mais pudermos levar a esse produtor uma tecnologia mais simples, muito melhor para criar essa demanda que ainda fica muito desconfiada.
Tem uma enormidade de possibilidades para serem desenvolvidas que vão fomentar a origem de pequenos negócios
LUÍS HUMBERTO VILLWOCK
Coordenador da Riagro-RS
Existe uma discussão de que o conhecimento, muitas vezes, fica na academia. A rede vem para romper isso?
Totalmente. Queremos juntar essa parte que está na academia com, por exemplo, cooperativas de produtores. Através dessa ligação, as cooperativas vão nos dizer “olha, o nosso produtor tem essa dor”, e com a rede, nós vamos traduzir. Às vezes, o cientista também não sabe ler a dificuldade do produtor que está no campo. Vamos fazer a aproximação desses dois mundos e traduzir o que a academia pode adaptar ao mundo real, e não ao mundo da ficção científica.
Como a inovação pode ajudar a impulsionar ainda mais o campo?
O nosso objetivo não é atender somente à grande empresa agropecuária que pode comportar e comprar uma tecnologia já bem consolidada. Queremos chegar ao pequeno produtor. Que ele possa ter o mesmo nível de qualidade e produtividade que grandes empresas do agro já têm de forma natural. Tem uma enormidade de possibilidades para serem desenvolvidas que vão fomentar a origem de pequenos negócios.
Quais as estratégias para fortalecer o setor?
São várias agendas. A primeira é trabalhar com tecnologias que possam pensar em sustentabilidade. Aqui no nosso Estado, particularmente, o problema não é falta d’água. Não se admite o volume de perdas que tivemos esse ano por mau manejo de recursos hídricos que temos tão abundantemente, por exemplo. É uma agenda para ontem. O segundo ponto é a qualidade e a rastreabilidade de produtos para podermos exportar altíssimo valor agregado. E tem também a questão da qualidade do uso de agroquímicos. Existe toda uma área nova de manejo integrado, mais equilibrado do ecossistema. Ou seja, o que não falta é trabalho para fazer e problemas reais para que os cientistas entreguem solução que seja viável, entendível e aplicável para o produtor rural. Quanto mais pudermos levar a esse produtor uma tecnologia mais simples, muito melhor para criar essa demanda que ainda fica muito desconfiada.