Maior produtor nacional de arroz, o Rio Grande do Sul dá hoje a largada simbólica e oficial à colheita da atual safra. Cem por cento irrigado, o cereal não conseguirá, no entanto, escapar imune da estiagem que já levou 408 municípios gaúchos a decretarem situação de emergência. Um dos efeitos da falta de chuva, com impacto sobre os números de produção, foi o abandono de áreas cultivadas, aponta o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Na falta e escassez de água, foi preciso priorizar talhões com mais chances de resultados.
Na região do Estado que tem a maior área plantada, a Fronteira Oeste, 9% dos 284,65 mil hectares foram deixados de lado “por incapacidade de irrigar”, observou Rodrigo Machado, presidente do Irga. Ou seja, faltou água para dar conta da demanda e foi preciso fazer escolhas. No total, os gaúchos cultivaram 957,18 mil hectares de arroz, leve alta de 1,3% sobre o ciclo anterior.
— Esse percentual demonstra uma tendência de estabilidade na área e um aumento importante da soja na várzea, que consolida esse novo olhar da lavoura como um sistema de plantio — ponderou Machado na apresentação dos dados, dentro da programação da 32ª Abertura Oficial da Colheita de Arroz.
De fato, a rotação com outras culturas ganha espaço crescente, com pesquisas buscando formas de integrar milho ao ambiente produtivo da lavoura de arroz. Em relação às perdas provocadas pela estiagem, o Irga diz que um comitê vem monitorando a situação de perto desde dezembro, mas considera prematuro apresentar projeções dados neste momento, com “apenas 12 mil hectares colhidos”.
— Precisa avançar mais a colheita — reforça o dirigente.
Além da falta de chuva, as ondas de calor registradas no Estado também prejudicaram a cultura, afetando o estágio de enchimento do grão. Diante do iminente impacto à safra, o mercado começa a “colocar um preço” à oferta menor. Em apenas um dia desta semana, terça para quarta-feira, a cotação da saca de 50 quilos do indicador Cepea/Irga-RS cresceu 4,8%.
— O mercado está firme, com muita demanda, procura pelo produto. Temos os problemas de perdas, que ainda não sabemos o tamanho, mas certamente influirão neste mercado — pontuou João Batista Gomes, diretor-comercial do Irga.
Essa valorização, no entanto, não é sinônimo de renda. Além das perdas na colheita, os custos de produção subiram e continuarão subindo no plantio da próxima safra.
— Como fazer o planejamento da próxima safra sem recursos hídricos e com essa questão dos custos. O que o produtor tem de fazer para ficar viável é um grande desafio — sintetiza Alexandre Velho, presidente da Federarroz-RS.