A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Além dos altos custos de produção, que impactam os setores produtivos como um todo, a perda do poder de compra pelos consumidores vem afetando severamente o setor leiteiro. Uma das explicações é que as faixas de renda que mais consomem os produtos básicos foram as mais afetadas pela perda de emprego durante a pandemia. Diante da dificuldade, indústria e produtores pedem socorro para conseguir enfrentar a crise.
O secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do RS (Sindilat), Darlan Palharini, entende que “não há uma solução mágica”, mas que é preciso levar o tema para o diálogo. Por isso, o setor está buscando medidas protetivas que ajudem a cadeia produtiva. Entre elas, o reforço de compras governamentais para reaquecer o mercado. A expectativa é de que o pagamento do Auxílio Brasil possa ajudar os consumidores que hoje estão fora do mercado de consumo.
Palharini explica que, diferentemente de outros produtos brasileiros, que puderam se beneficiar do dólar alto para exportar, o foco do setor lácteo é o mercado interno, já que cerca de 98% é consumo local. Com o cenário corroído pela inflação, fica difícil sustentar o consumo dos itens mais básicos, como leite UHT, leite em pó e queijo muçarela. E como atendem a uma faixa de poder aquisitivo menor, os produtos não conseguem abarcar os custos de produção, ao contrário de outros derivados, como o iogurte.
– Na indústria, somente a embalagem cartonada teve aumento nos últimos 12 meses de mais de 130%. Energia elétrica, combustíveis e alimentação dos animais também têm peso importante. Mas o maior problema neste momento é que o consumidor está com pouco recurso para comprar alimentos – diz o dirigente.
As exportações de lácteos representam volume pequeno na produção nacional. Como medida de longo prazo, Palharini cita que uma alternativa é buscar certificações ambientais do produto gaúcho, a exemplo do que foi amplamente debatido durante a COP26, para competir internacionalmente e conquistar novos mercados. Isso protegeria o setor de ser tão suscetível às crises e ao andamento da economia no mercado interno.