O compromisso assumido pelo Brasil na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP26) para redução da emissão do gás metano insere a pecuária entre as atividades com ações necessárias para que se atinja esse objetivo. Mas está longe de ser um decreto de que todos os males do aquecimento global residem no consumo de carne e que, para combatê-los, é preciso lançar mão da abstenção. Especialistas afirmam que é possível produzir e gerar um impacto menor. Sem fórmula mágica, mas com pesquisa e ações que permitam vencer desafios fisiológicos dos animais (veja quadro) e de gestão da propriedade.
- A posição brasileira de assinar a redução de metano é importante. E se dará pelo complexo agrossilvopastorial (a integração produtiva entre lavoura-pecuária e floresta). O balanço energético será fruto desse trabalho - afirma Domingos Lopes Velho, coordenador da Comissão de Meio Ambiente da Federação da Agricultura do RS (Farsul).
Pesquisadora da Embrapa Pecuária Sul, Cristina Genro reforça que a resposta para a questão está no manejo. A pastagem usada na alimentação de ruminantes (bovinos, ovinos e caprinos), se bem manejada, consegue produzir resultados importantes. E a integração de atividades, além da redução das emissões de metano, traz benefícios como maior rapidez na terminação dos animais e aceleração da degradação de micronutrientes no solo, com reflexo positivo sobre a cultura posterior.
- Se tivermos boas práticas, vamos ajudar. É só manejar adequadamente. A gente pode consumir o churrasco tranquilamente - pontua a pesquisadora da Embrapa.
A redução do metano entre as metas da COP26 não é obra do acaso. O gás tem potencial maior de aquecimento do que o carbônico, mas fica menos tempo na atmosfera - entre 10 e 20 anos, e o CO2, cem anos.
- Esse acordo é importante porque é uma redução que terá impacto mais rápido, por conta do metano ficar na atmosfera por prazo menor. Mas o gás carbônico continua sendo um problema - destaca Luiza Bruscato, gerente executiva do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS).
Ela observa que, ao fazer a conta da atividade, é preciso ter um olhar que vá além do número da emissão em si:
- Quando faz esse recorte, está se olhando somente para o animal. Não para os sistemas de integração lavoura- pecuária, floresta. Pasto bem manejado sequestra carbono e manejo do solo também absorve.
O ponto da emissão
- Afinal, em que momento e por que há a emissão de metano? Vem do arroto do boi? Da flatulência? A resposta é: de ambos, mas majoritariamente do arroto. A pesquisadora da Embrapa Pecuária Sul Cristina Genro explica que os ruminantes (bovinos, ovinos e caprinos) têm um sistema digestivo complexo. O alimento é regurgitado para que possa ser processado, quebrado em partes menores. É nesse retorno que há a emissão.
Como resolver
- Por ser uma questão fisiológica há como reduzir o metano expelido? Sim. Dependendo do que o animal comer, arrota mais ou menos.
- Coisas como ingerir azevém recém plantado ou no final do ciclo fazem a diferença. Arrota mais no final.
- Cada espécie forrageira (usada na alimentação) tem uma altura indicada para que esse processo digestivo resulte em menos metano sendo emitido.
- A ingestão de leguminosas é outra "redutora". Elas deixam partícula menores. Assim, o animal precisa ruminar menos.
- O manejo adequado é uma forma eficaz de reduzir as emissões.
Forma de defesa
- Esse processo de ingestão é uma forma de defesa desenvolvida pelos animais. Ingerem uma quantidade de pasto e depois ficam só ruminando e cuidando potenciais inimigos.