Nascido em Caçapava do Sul, integrante de uma família ligada à pecuária de corte, João Paulo Santos até tentou uma profissão em outra área. Durante um ano, estudou Jornalismo. Mas foi depois de um semestre intercalando o curso com o de Medicina Veterinária que ele encontrou seu chão. Decidido a retornar para a cidade natal depois da formação, passou a tocar os negócios com o pai, sem perder o contato com a comunicação. Há oito anos é leiloeiro rural profissional, tendo o microfone em uma mão e o martelo na outra. Veja abaixo trechos da entrevista sobre a rotina da atividade.
Você é filho de leiloeiro rural. Seguir a atividade foi algo natural?
Fiz o primeiro vestibular quando tinha de 16 para 17 anos, para Jornalismo. Meu pai é vinculado ao setor (agro), mas minha mãe é professora de Português, aqui em casa sempre lemos, escrevemos. Passei na Unifra (em Santa Maria). Queria fazer na federal (UFSM). Fiz vestibular de novo, daí para Medicina Veterinária. Por um semestre cursei as duas. Acabei abandonando o Jornalismo.
E como foi para os remates?
Desde o primeiro semestre de Veterinária, decidi que iria me formar e voltar para Caçapava. Me formei em 2012. Segui trabalhando com meu pai, que sempre se dividiu entre o escritório (EDS Remates) e a criação de animais. Ele é leiloeiro desde 1978 (Ênio Dias dos Santos é o atual presidente do Sindiler-RS). É muito da nossa família. A gente brinca que toda criança da família já carregou boleto (referência às notas de vendas dos leilões). O título de leiloeiro, oficial mesmo, é de 2013. Mas o primeiro remate que fiz foi de cavalos, quando tinha 14 anos.
Quando decidiu se tornar um leiloeiro profissional?
Não tem uma data, foi uma coisa muito natural. A minha vida se confunde muito com os remates. Quando criança, também fui narrador de rodeio, já tinha uma ligação com o microfone.
Além da voz e da batida do martelo da venda, quais as tarefas do profissional da área?
Meu pai sempre fala que qualquer remate a gente vende antes. Na hora, concretiza o antes. Tem de oferecer todas as possibilidades, contatar com os possíveis compradores. A gente trabalha com uma relação de confiança. Vejo o leiloeiro rural como uma pessoa que tem de passar credibilidade. É importante ter voz boa, mas também conhecer o que está vendendo, ser bem relacionado. Para mim, é muito importante que a figura desse intermediário seja de credibilidade. Nosso papel é fazer esse meio de campo.
O que mudou com a necessidade de vender via canais virtuais em meio à pandemia?
A gente fez teletrabalho em remate, uma coisa até dois anos atrás impensável para remate de gado geral. O meio virtual ampliou a visibilidade. Se dá o maior número possível de informações dos animais à venda. Nos primeiros leilões com restrição de público, nos gerou muita angústia. Começar um remate que vai durar sete, oito horas e não estar enxergando nenhum comprador... Nasci vendo remates funcionarem de uma maneira, hoje as coisas precisam de outra velocidade. Meu papel é fazer essa transição. Poder trabalhar junto (com o pai), é muito legal. Notar que conquista um espaço também é importante. Vai aumentando nossa responsabilidade e carteira de clientes.