O descompasso entre oferta e demanda para movimentar cargas mundo afora não só persiste como tem inflado os custos com frete e faz com que as exportações do agronegócio tenham navegado por águas mais turbulentas. Os efeitos são sentidos de formas diferentes em cada setor. No arroz, a situação tem travado embarques, segundo a associação das indústrias, a Abiarroz.
A entidade aponta que, só na relação entre agosto e maio, o valor do transporte marítimo subiu em média 217% – com situações de até 450% de alta.
– O cenário atual prejudica negócios já consolidados no Exterior e as ações de promoção em mercados que importam arroz com valor agregado, como Estados Unidos, Peru, México e América Central – observa Carolina Telles Matos, gerente de exportação da Abiarroz.
Em números, o primeiro semestre deste ano foi de recuo de 46% no valor exportado e de 58% no volume embarcado de arroz na comparação com igual período em 2020. Mesmo com a ressalva de que o ano passado foi singular, o que torna a base de comparação elevada, o tamanho e os mercados em que houve a redução preocupam.
Como observou Tiago Barata, diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Arroz (Sindarroz-RS), em nota publicada pela coluna, a valorização do frete acaba tendo um peso maior para o arroz: “Produtos de maior valor agregado sofrem menos”.
Igualmente impactada pela escassez de contêineres e a consequente alta do frete, a indústria de proteína animal não tem tido redução em embarques. Pelo contrário. Tanto as exportações de suínos quanto as de aves têm aumentado. O que não diminui a preocupação do setor.
– O desempenho poderia ser ainda melhor. O preço (para o transporte) ficou muito caro, mais do que triplicou. E traz um efeito cascata da pandemia, mas não é só um problema pontual, é estrutural – avalia Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Um deles é o fato de que os navios vêm ficando maiores, o que exige estrutura portuária e reduz janelas de embarque. Santin diz que as questões estruturais já vêm sendo tratadas com o Ministério dos Transportes. Credenciado como grande fornecedor global de alimentos, o Brasil terá uma demanda cada vez maior, que exigirá fôlego para dar conta.