O cenário típico de verão, com tempo seco e altas temperaturas em pleno inverno gaúcho, contrasta com as condições da estação do frio. Mais do que isso, a estiagem que se acentua no Rio Grande do Sul fez pairar sobre as lavouras de trigo a ameaça de uma produção aquém da esperada. Ainda há um caminho a ser trilhado até a colheita: a maior parte das áreas semeadas, 89%, segundo dado da Emater, está em fase de germinação. Outros 10%, em floração, e apenas 1% na etapa de enchimento de grãos.
Mas a persistência do tempo seco, com precipitações de baixo volume, já está cobrando seu preço em alguns pontos. É o caso da Fronteira Oeste. O diretor-técnico da Emater, Alencar Rugeri, explica que ficou maior a área na região com problemas, e fez o sinal avançar para vermelho:
— De maneira geral, está faltando chuva, porém, essa região é a que está com dificuldade maior.
Um dos pontos de preocupação vem da dificuldade para fazer o manejo necessário. Como gramínea que é, o trigo tem no nitrogênio um fertilizante importante. A falta ou a pouca chuva prejudicam a aplicação do produto, que precisa de umidade para ter eficácia.
É o que se verifica na área de atuação da Coopatrigo, com sede em São Luiz Gonzaga, nas Missões. O espaço dedicado à cultura neste ano cresceu na casa de dois dígitos em relação ao ciclo passado, somando cerca de 100 mil hectares. O engenheiro agrônomo Bento Jacó Büttenbender diz que o departamento técnico apurou uma perda média de 30% do potencial produtivo. Se as precipitações não vierem, no próximo dia 27 serão 60 dias sem volumes significativos na região, pontua Büttenbender:
— Cada dia que passa, as perdas só aumentam. Se a chuva retornar, não reverte, mas é esperança de ter, pelo menos, a produção do grão de qualidade.
O plantio, feito de forma escalonada, teve duas janelas principais, com 40% da área semeada em cada uma delas. Em ambas, houve produtores que fizeram a aplicação de nitrogênio tendo a previsão de chuva como referência. Mas a pequena quantidade de precipitação fez com que o produto não tivesse efeito. Outros nem conseguiram colocar o insumo, com a estiagem se intensificando. E isso já traz efeitos sobre a capacidade de rendimento, diz o engenheiro agrônomo da Coopatrigo.