Mais do que ser o primeiro, é o que representa o projeto-piloto feito para a Cotrijal no cenário do crédito rural que o torna tão emblemático. Como antecipou a coluna, a operação foi detalhada nesta quinta-feira (08). E é vista como uma chave de acesso a nova fonte de recursos para financiar a agropecuária.
— É uma grande inovação, marca a entrada do banco em um mercado de grande futuro. Estamos democratizando o crédito — pontuou Gustavo Montezano, presidente do BNDES.
O uso do Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) em si não é a novidade. A figura do garantidor, sim.
— A diferença é que o BNDES garante o pagamento dos investidores. Abre a porta de uma nova estrutura que se espera poder replicar posteriormente — completou o economista Rafael Feler.
Na prática, o mecanismo (veja abaixo) representa mais uma opção para o produtor na hora de buscar recursos, seja para renegociação ou para um novo financiamento. Soma-se às linhas já existentes e traz a expectativa de que o maior beneficiado com essa concorrência seja o produtor.
Será um divisor de águas, que oportunizará ao pequeno e ao médio produtor dar continuidade à operação agrícola.
NEI MÂNICA
Presidente da Cotrijal
— Precisamos de muita gente, o agro cresceu muito. Temos poucos recursos oficiais, que têm de ser dirigidos para os pequenos e médios produtores — enfatizou a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
Outro ponto importante. O governo colocar esforços (e dinheiro) na ampliação do seguro rural, atuando de forma direcionada no crédito rural, atendendo os que realmente precisam da subvenção e equalização de juro oficial. A MP do Agro, convertida em lei, foi fundamental para o processo, dando segurança às operações de crédito estruturadas. A proposta agora apresentada foi desenvolvida pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul) com o ministério.
— O primeiro passo é ter o produto na prateleira. Tudo nasce a partir do produtor — destacou Antônio da Luz, economista-chefe do Sistema Farsul, que trabalhou na construção da proposta.
Na Cotrijal, a operação será para renegociação de cerca de 500 associados, impactados pela estiagem do ano passado.
Saiba mais sobre o mecanismo
- O Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) é uma das operações estruturadas de crédito possíveis. O diferencial, no CRA Garantido, é ter um garantidor — nesse caso, o BNDES
- O ponto de partida é o produtor. É ele quem vai emitir a cédula de produtor rural (CPR). O documento funciona como uma espécie de cheque ao portador. E é emitido em grupo, associado a cooperativa ou clientes de revenda de insumos, trading, indústria etc., em favor da originadora (que no piloto apresentado é a Cotrijal)
- Com as CPRs em mãos, a originadora busca uma securitizadora para transformá-las em CRA. Papel que coube nesse projeto ao Grupo Ecoagro
- Esses certificados são levados aos investidores por meio de um coordenador líder/distribuidor, geralmente corretora ou banco. No caso em questão, o Banco Alfa
- Os investidores, por sua vez, têm a garantia do BNDES. O papel do banco é fazer o juro cair, pois ao garantir o investidor com uma espécie de aval aos papéis dos produtores, reduz o risco da operação e recebe uma remuneração para isso
- No piloto para a Cotrijal foram captados R$ 29 milhões