Para o recorde de mais de 20 milhões de toneladas estimado para a produção de soja no Rio Grande do Sul, pesou também o desempenho positivo obtido na Metade Sul. A região, que se consolidou como a nova fronteira agrícola do grão, tem no clima habitualmente mais seco um de seus maiores desafios. Anos de colheita cheia no Norte não são, necessariamente, no Sul. Em 2021, o tempo ajudou inclusive lá. E essas condições favoráveis, somadas à profissionalização ocorrida ao longo dos anos, são apontadas como o motivo para fazer deste também um ano de rendimentos singulares na região. A pedido da coluna, a Emater mapeou os resultados de produtividade nas regionais de Pelotas e de Bagé.
Em Pelotas, onde a área cultivada com o grão soma 426,6 mil hectares em 22 municípios, os 2.775 quilos esperados por hectare (46,25 sacas) são o melhor desempenho em 12 anos (veja abaixo). Resultado de técnica, tecnologia e qualificação, avalia Evair Ehlert, engenheiro agrônomo responsável pela área de grãos na regional da Emater. Ainda é um rendimento inferior à média estadual (que dev ficar em 3326 quilos por hectares) e às produtividades obtidas na Metade Norte, mas um avanço nessa área com condições singulares de clima e de solo, que "não podem ser comparados com o Planalto":
— Os produtores daqui estão se profissionalizando. E os que vêm de fora, aprendendo. Quem não está sendo profissional, está quebrando. Não tem como ser diferente.
E se a probabilidade de estiagens mais severas e o solo com menor capacidade de uso são obstáculos, há vantagens, como a proximidade com o porto de Rio Grande, o que ameniza os gastos com frete. Outro fator que tem "entrado bem", explica Ehlert, é a rotação com áreas de arroz irrigado — 23% do espaço com soja na regional está em solos de região plana ou em intercalado com arroz irrigado:
— São áreas em que estamos aprendendo a trabalhar. É uma fronteira aberta, um potencial de avanço para nós na soja.
O incremento anual de área na regional tem ficado entre 2% e 5%. Há apenas uma década, a área era inferior a cem mil hectares. O momento singular de bons preços e produtividades alimenta a expectativa de uma injeção financeira na economia local. Só em faturamento, a estimativa são de R$ 3 bilhões.