Após a frustração causada pela estiagem em 2020, o Rio Grande do Sul se encaminha para obter uma produção histórica em 2021. Carro-chefe da safra de verão, a soja deverá render 20,2 milhões de toneladas no atual ciclo, elevação de 80% frente à temporada passada. É o maior volume já registrado pelo Estado, conforme projeção foi divulgada pela Emater nesta quinta-feira (25).
Com a valorização dos preços das commodities nos últimos meses no mercado internacional e o real desvalorizado em relação ao dólar, o valor bruto da produção (VBP) da oleaginosa deverá alcançar R$ 50 bilhões, incremento de 140,3%, conforme o Ministério da Agricultura. Esse é o montante a ser irrigado na economia gaúcha a partir da comercialização dos grãos.
Devido à expansão na soja, a safra gaúcha de grãos de verão deverá totalizar 24,6 milhões de toneladas no atual ciclo, o que representa expansão de 59,2% frente à temporada anterior, segundo a Emater. A estimativa, pela primeira vez, não inclui os dados do arroz. O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), que também compila números da cultura, ainda não finalizou a estimativa para o atual ciclo.
Rodeada de incertezas ao final do ano passado, devido à estiagem na primavera, a principal cultura do Estado se recuperou com a volta da chuva a partir de janeiro. O desempenho da oleaginosa ficou acima até mesmo da expectativa inicial do órgão de assistência técnica feita no início do ciclo, em setembro passado, que era de 18,9 milhões de toneladas.
— Neste ano romperemos duas barreiras: a das 6 milhões de hectares plantados e a de 20 milhões de toneladas de produção. Tivemos dificuldade para plantar a soja dentro da janela mais adequada (por causa do tempo seco), isso aumentou a tensão, mas a condição hídrica foi favorável e conseguiremos atingir esse número — comemora Alencar Rugeri, diretor-técnico da Emater.
A área destinada à oleaginosa também foi recorde, alcançando 6,07 milhões de hectares, elevação de 1,6%. A produtividade por hectare tende a alcançar 3,3 mil quilos, alta de 76,6%, mas ainda aquém do recorde obtido em 2017 (3,38 mil quilos por hectare).
— São Pedro nos ajudou, diferente da outra safra, e agora teremos uma colheita muito positiva — resume Covatti Filho, secretário estadual da Agricultura.
Devido ao plantio mais tardio do que a média, por causa do tempo seco na reta final de 2020, a colheita neste ano está em ritmo mais lento do que o normal. A tendência é que avance com mais força na primeira quinzena de abril e se encerre até o final do próximo mês. Por isso, Rugeri enfatiza que ainda há necessidade pontual de chuva em algumas localidades para garantir safra cheia.
Milho
Quem enfrentou os efeitos do tempo seco novamente foi o milho. Com a estiagem na primavera afetando principalmente a metade Norte, onde está concentrada a maior parte da produção, o grão deverá render 4,32 milhões toneladas, 4,2% a mais que no ciclo anterior. Ainda assim, a produção ficará aquém da projetada inicialmente, de 5,9 milhões de toneladas. As lavouras, em 2021, totalizaram 796,3 mil hectares, 5,9% de acréscimo.
O feijão também teve o desenvolvimento impactado pelo clima. A primeira safra totalizará 51,5 mil toneladas, segundo a Emater, redução de 4,9%. A área cultivada alcançou 37,5 mil hectares, expansão de 1,23%. Na segunda safra, a expectativa é de colheita de 31,5 mil toneladas, acréscimo de 19,8%. As lavouras devem totalizar 23,5 mil hectares, elevação de 0,82%
O avanço geral da safra de verão de 2021, influenciado pela soja, deverá impulsionar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul, na avaliação do presidente da Emater, Geraldo Sandri:
— A agropecuária vai puxar a economia do Rio Grande do Sul. Se no ano passado o PIB gaúcho caiu mais do que o nacional, por causa da estiagem, em 2021 será o contrário. O Estado vai crescer mais do que o país.
Em 2020, de acordo com o Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado ao governo do Estado, o PIB gaúcho caiu 7% em relação a 2019. Já a economia brasileira teve retração de 4,1%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na agropecuária, o Rio Grande do Sul verificou recuo de 29,6%, enquanto no país houve incremento de 2% no ano passado.
Revisão na área semeada de arroz
O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) atualizou nesta quarta-feira (25) as perspectivas para a safra de arroz no Estado. O instituto revisou para cima a projeção de área semeada, que agora é de 945,9 mil hectares, leve incremento de 1,4% frente a 2020. Até o momento, com 43% da área colhida, a produtividade média alcança 8,9 mil quilos por hectare. O resultado parcial supera o recorde obtido na temporada passada, de 8,4 mil quilos por hectare.
— Com as lavouras mais tardias, colhidas no final de março, essa produtividade ainda vai baixar. Ainda não conseguimos estimar a produtividade final — pondera Ricardo Kroeff, diretor-técnico do Irga.
Por ainda não estimar a produtividade, Kroeff constata que não é possível calcular, no momento, o tamanho da produção gaúcha. Ainda assim, estima que o Estado irá obter entre 7,5 milhões e 8 milhões de toneladas em 2021.