O jornalista Fernando Soares colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Na esteira do que ocorre com diversos segmentos da indústria brasileira, o setor de máquinas e implementos agrícolas também começa a enfrentar problemas de abastecimento de matérias-primas. E a falta de insumos nas fábricas ocorre justamente em momento de demanda aquecida, já que a valorização dos grãos neste ano estimulou o produtor rural a ir às compras para a próxima safra.
Com as carteiras recheadas de pedidos, as fábricas do Rio Grande do Sul, Estado que responde por mais de 60% da produção nacional, dificilmente têm tratores, colheitadeiras e outros itens disponíveis para pronta entrega.
Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Estado (Simers), Claudio Bier, as empresas só voltarão a ter disponibilidade de produto entre o final de janeiro e o início de fevereiro.
- Há duas dificuldades neste momento: encontrar componentes e o aumento expressivo de algumas matérias-primas, por causa do dólar alto e reajustes de alguns fornecedores no mercado interno - classifica Bier.
O dirigente aponta que as fábricas gaúchas têm dificuldades para obter componentes hidráulicos e eletrônicos e até mesmo aço, que praticamente dobrou de preço nos últimos meses.
A situação reflete ainda um descompasso entre oferta e demanda provocado pela pandemia de coronavírus, que paralisou as atividades de diferentes setores ao mesmo tempo e, em seguida, resultou em uma retomada coletiva.
Ontem, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgou que, em outubro, o Brasil produziu 4,9 mil máquinas agrícolas e rodoviárias. O resultado representa alta de 9% frente a setembro, mas significa queda de 5,2% em relação a igual período do ano passado.
No acumulado do ano, a produção tem recuo de 18,1%.Vice-presidente da Anfavea, Alexandre Bernardes credita o desempenho ao impacto da pandemia e diz que a escassez de insumos ainda tem pouco efeito nos números.