O que era "efeito prego", um aumento de consumo inesperado em meio à pandemia, virou problema: a reação mais rápida de alguns segmentos e a disputa global por matérias-primas está provocando aumentos de até 90% no aço, especialmente para pequenas e médias indústrias que não têm acesso direto às siderúrgicas.
Com o preço quase no dobro, um importante setor da indústria gaúcha vê na situação uma ameaça à reação que começa a se desenhar, ainda que de forma irregular.
Só Caxias do Sul, onde se concentra boa parte do segmento metalmecânico do Estado, chega a representar entre 4,5% e 5% do consumo nacional de aços planos (em chapas ou bobinas, destinado a produção de veículos e peças). Um dos motivos que está levando à alta é o aumento do minério de ferro, que voltou a aparecer nesta quarta-feira (16) com alta de 9,58% no IGP-10. O indicador de inflação da FGV subiu 2,53% em agosto, mais do que o acumulado em 12 meses no IPCA. O aço também pesa no custo de produtos de consumo duráveis, como fogões e geladeiras.
– O aço é o mesmo que oxigênio para as 3,3 mil empresas pequenas e médias da nossa região – compara Getulio Fonseca, diretor da PerfilLine Componentes Metálicos.
Segundo Fonseca, as grandes indústrias da região, como Randon e Marcopolo, compram direto das usinas, enquanto as pequenas e médias são abastecidas por distribuidores. É nessa negociação que o aço só fica disponível se o cliente aceita reajuste de até 90%:
– Se quer comprar com preço normal, não tem. Mas se aceitar valores com 90% de aumento, o aço aparece. E há casos em que mesmo aceitando o reajuste, não se consegue. Começamos a reduzir a produção por falta de insumo. As indústrias do setor ficaram entre 40 e 50 dias sem receita, a situação é crítica.
A PerfilLine forneceu, por exemplo, para a obra do Minha Casa Minha Vida (agora Casa Verde Amarela) que o presidente Jair Bolsonaro foi inaugurar em Bagé. Segundo o empresário, começou a faltar aço depois de junho.
– Está pior do que o arroz. Agora que deveria começar a retomada, começa a faltar tudo. Também há problemas em componentes feitos de resinas plásticas. Não dá para entender. O governo federal queria tanto o retorno da atividade, mas esqueceu de cuidar do abastecimento da indústria – observa Fonseca.
Para tentar amenizar a dificuldade, o segmento encaminhou pedido de isenção da alíquota de importação de aço, em média de 12%, a exemplo do que foi feito com o arroz. Segundo o empresário, algumas empresas estavam reprogramando a produção, no final do ano, para níveis acima do que haviam anunciado em janeiro.
– Há uma demanda enorme. Uma preocupação é de que isso leve a uma nova leva de desemprego – diz o industrial.