Seis dias após receber o diagnóstico de que não está mais contaminado pelo novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro provocou aglomerações em visita ao Estado nesta sexta-feira (1). Bolsonaro esteve por cerca de cinco horas em Bagé, na Campanha, onde inaugurou unidades do Minha Casa Minha Vida e uma escola cívico-militar. Nos deslocamentos, ele chegou a parar o comboio e desceu do carro para cumprimentar simpatizantes. Após a entrega das chaves a famílias contempladas com as residências populares, Bolsonaro concedeu uma rápida entrevista na qual disse estar curado da covid-19 e que "todo mundo vai pegar".
— Todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta. Lamento as mortes. Morre gente todo dia, de uma série de causas. É a vida — comentou.
Desde as primeiras horas da manhã, moradores do entorno do Aeroporto Internacional Comandante Kraemer esperavam pelo presidente. Havia bandeiras do Brasil nas fachadas das casas e cavalarianos em pontos estratégicos do trajeto.
O avião com Bolsonaro, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, e o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, e parlamentares aterrissou às 11h30min. O presidente desembarcou vestindo um pala e chapéu de gaúcho, mas quando surgiu no estacionamento do aeroporto havia trocado a indumentária por uma máscara da prefeitura estampada com a frase "eu amo Bagé".
Na véspera, em live nas redes sociais, ele havia dito em tom de brincadeira que o irmão havia servido num dos quartéis da cidade por ter obtido uma classificação baixa na academia militar. "Eu me esforcei para não ter que ir para o Rio Grande do Sul. É muito frio" justificou.
Saudado aos gritos de "mito, mito," o presidente se aproximou dos simpatizantes que o aguardavam no aeroporto e baixou a a máscara por alguns segundos. Na sequência, percorreu o cordão de segurança cumprimentando os apoiadores com apertos de mão. Bolsonaro também ergueu uma caixa de cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada no tratamento da covid, sendo aplaudido pelos militantes. O presidente ainda exibiu uma camiseta do Guarany, clube de futebol da cidade, e pegou uma criança no colo, antes de voltar a cumprimentar a multidão no trajeto até o carro.
Do aeroporto, Bolsonaro seguiu para a Escola Municipal Cívico-Militar São Pedro, a primeira a entrar em operação no Estado, em agosto do ano passado. Na chegada, houve nova aglomeração. Bolsonaro tirou a máscara e acenou para a multidão que o aguardava. Mas em seguida, já com o rosto protegido, foi ao encontro dos apoiadores, com muitos cumprimentos de mão antes de entrar no colégio. A imprensa foi vetada na solenidade, transmitida pelos canais oficiais da Presidência. Do lado de fora, o público cantava o hino nacional e gritava "Bolsonaro, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver".
No deslocamento entre a escola e o 3° Regimento de Cavalaria Mecanizada (3° RCMec), onde cumpriu visita oficial e almoçou com autoridades civis e militares, houve nova aglomeração. Bolsonaro parou o comboio presidencial no meio da rua e desceu para cumprimentar simpatizantes. Rodeado por apoiadores, novamente segurou uma criança no colo e baixou a máscara para tirar fotografias.
Após o almoço, a cena se repetiu diante dos prédios do Minha Casa, Minha Vida. O presidente parou a comitiva para montar a cavalo. Bolsonaro desceu do carro, subiu no animal da raça crioula de um cavalariano que o esperava e agitou a bandeira rio-grandense. Dentro do residencial, a cerimônia foi curta. O presidente conheceu um dos apartamentos e entregou as chaves para quatro famílias contempladas antes de conversar com os jornalistas. Nos cinco minutos de entrevista, falou sobre investimentos em Bagé, covid e cloroquina antes de encerrar abruptamente e conversa diante de uma pergunta sobre a recriação da CPMF.
— Quando você não tem alternativa, não proíba um médico que porventura queira usar aquele medicamento. Pessoal diz que não tem comprovação científica, todo nós sabemos que não tem, agora não tem também ninguém cientificamente dizendo que não faz efeito
— justificou.
Bolsonaro chegou a dizer que Bagé havia enfrentado a pandemia sem restrições à atividade econômica, recebendo aceno positivo do prefeito Divaldo Lara (PTB). A informação não procede. Em março, Divaldo fechou todo o comércio e decretou toque de recolher diante de um surto da doença surgido na comunidade médica. Havia barreiras sanitárias nas entradas do município e boa parte dos estabelecimentos comerciais ficou sem operar até maio, gerando revolta e carreatas dos empresários locais contra a prefeitura.
Na saída, Bolsonaro provocou nova aglomeração ao descer mais uma vez do carro para cumprimentar populares. O frentista Marlon Freitas, 28 anos, foi um dos que correu para apertar a mão do presidente.
— Votei nele, mas estava descontente porque ele estava fazendo muita bagunça. Agora melhorou, ele não está falando tanto e está trazendo bastante coisa para Bagé — comemorou.