Ao analisar as imagens da passagem do presidente Jair Bolsonaro por Bagé, na região da Campanha, nesta sexta-feira (31), infectologistas ouvidos por GaúchaZH são unânimes: do ponto de vista sanitário, Bolsonaro agiu de forma irresponsável.
Saudado aos gritos de "mito, mito", o mandatário desembarcou no município por volta das 11h30min. Embora tenha vestido máscara, ao se aproximar dos simpatizantes que o aguardavam no aeroporto, baixou a proteção por alguns segundos, para recolocar em seguida.
Depois, percorreu o cordão de segurança cumprimentando as pessoas aglomerados no local com apertos de mão e ergueu uma caixa de hidroxicloroquina, o que provocou aplausos. Antes de deixar o local, ele também pegou uma criança no colo.
Na sequência, o presidente participou da inauguração de uma escola cívico-militar na cidade. Ao chegar ao colégio, Bolsonaro tirou a máscara de novo por alguns momentos e acenou. Depois, vestindo o equipamento de proteção, desceu do veículo e caminhou junto à multidão, cumprimentado os eleitores.
Para Luciano Goldani, professor titular de Doenças Infecciosas da UFRGS e infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), o presidente teve "postura negacionista".
— Promove aglomerações e não respeita as normas de distanciamento social preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Usa e posteriormente retira a máscara, uma atitude que demonstra pouca importância dessa medida na prevenção da covid-19. Enfim, é um mau exemplo para todos nós que enfatizamos a adoção dessas medidas não farmacológicas preventivas tão importantes — afirma Goldani.
A avaliação do chefe do Serviço de Infectologia do HCPA, Eduardo Sprinz, é a mesma. O especialista, que também dá aulas na Faculdade de Medicina da UFRGS, diz que "Bolsonaro não fez nada além do que tem feito desde o início da pandemia".
— Ao promover ajuntamentos, ele segue prestando um desserviço, infelizmente. Age conforme sempre agiu. A ideia básica dele parece ser a seguinte: isso é uma guerra, haverá perdas, mas faz parte, esse é o custo. A atitude dele condiz com isso. É inconsequente — diz o professor.
Como Bolsonaro disse que teve coronavírus e que está curado, em tese, ele não representa risco de transmissão. O problema, segundo Sprinz, é o fato de estimular a aglomerações, sem exigir distanciamento mínimo entre os apoiadores e sem limitar acessos. Outro equívoco, de acordo com o infectologista, é a ode feita à hidroxicloroquina.
— Esse é o ponto chave. Além de incentivar aglomerações, Bolsonaro promove um desserviço quando fala bem de um medicamento sem eficácia comprovada contra a covid-19 e com muitos efeitos adversos — adverte Sprinz.