O Ministério da Saúde divulgou, nesta quarta-feira (20), novas orientações para o tratamento medicamentoso de pacientes com covid-19. Entre as recomendações, está a prescrição de cloroquina ou hidroxicloroquina associada a azitromicina para pacientes com sintomas leves. Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, o chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Eduardo Sprinz, afirmou que não gostaria de prescrever o medicamento para os pacientes.
— Eu gostaria de deixar a cloroquina e a hidroxicloroquina descansarem em paz. Eu posso ter as minhas convicções ou não, mas se o paciente quiser usar eu vou dizer ok. É uma situação difícil essa. É uma situação muito complexa. Eu, baseado na minha ciência, vou dizer: "olha, esse medicamento pode fazer mais mal do que bem, o senhor tem certeza que quer utilizar essa medicação?". Se a pessoa dizer "sim", ok. Mas eu, por mim, não prescrevo isso — disse.
O médico ressaltou que se o paciente desejar utilizar cloroquina ou hidroxicloroquina, ele vai prescrever. Antes, porém, vai solicitar um eletrocardiograma e vai repetir o exame a cada dois dias para verificar se há alguma alteração cardíaca. Também afirmou que vai receitar o medicamento apenas àqueles que estiverem no hospital.
Sprinz explicou que a maior parte das pessoas que se infectaram com o coronavírus se recupera de forma satisfatória. A utilização da cloroquina ou hidroxicloroquina, contudo, traz o risco — ainda que pequeno — de arritmia.
— Vamos supor que um de vocês pegou o coronavírus, ok? Baseado no que a gente tem, a gente sabe que 90% das vezes a pessoa vai evoluir de forma satisfatória, certo? Tem 10% das pessoas que podem não evoluir de forma satisfatória. Desses, tem 0,5% que podem evoluir de forma muito mal. E aí você está no início, está com uma gripe, uma gripezinha, como disseram, com sintomas leves. E tem um medicamento que, embora seja seguro, ele tem uma pequena chance de arritmia, seu coração pode bater de forma inadequada e você pode vir a morrer. Qual seria a escolha de vocês? – perguntou aos apresentadores.
Ouça a entrevista com Eduardo Sprinz na íntegra
O médico lembrou que, no dia 9 de abril, foi entrevistado pelo Timeline. À época, defendeu a utilização desses medicamentos, mesmo com a falta de estudos que comprovassem sua eficiência. Utilizou, na ocasião, a metáfora de estar no deserto e pensar ter visto água — no caso, a cloroquina — e que devíamos ir em direção a ela, mesmo sem saber se era real ou miragem. Atualmente, o posicionamento do médico é diferente:
— Eu falei na ocasião que a gente estava perdido num deserto e achou que tinha água e vai na direção da água para não morrer, mas a água poderia ser uma miragem. No atual momento, eu estou mais perto da miragem do que da água. Então é muito difícil isso, nós, médicos, tomarmos decisões. E é muito difícil nós, médicos, não podermos prescrever remédios para pacientes. Mas temos um princípio básico na nossa ética, é primeiro não fazer mais mal do que bem — explicou.
Ao final da entrevista, Sprinz afirmou novamente que a situação atual é "muito difícil" para os médicos.
— Imaginem nós, médicos, tendo que cuidar de pacientes e dizer: olha, o máximo que a gente pode fazer é dar suporte. É muito difícil isso. O máximo que a gente pode fazer é evitar que as complicações advindas dessa questão lhe causem um dano maior. É muito difícil isso para nós. Como eu queria dizer "eu sei um medicamento que vai ajudar" ou "tem um medicamento que vai prevenir essa doença". Como eu gostaria de poder dizer isso para as pessoas — disse.