Mais de 365 dias depois, 10 mil quilômetros rodados e quase 70 cidades brasileiras visitadas, um casal de Caxias do Sul coleciona memórias e experiências após deixar a casa e a família para realizar o sonho de viajar pelo país a bordo de um motor home. Rafael Busatto e Sana Porto Vargas iniciaram a jornada na última semana de 2023 e agora começam a planejar o retorno para a Serra gaúcha.
O casal conversou com a reportagem do Pioneiro nesta sexta-feira (27) enquanto estava na paradisíaca Jijoca de Jericoacoara, cidade cearense que abriga a famosa praia de Jericoacoara. Os dois estão na cidade desde o início de dezembro, estacionados em um camping, enquanto aproveitam as belezas do litoral nordestino e fazem a manutenção interna e externa do motorhome que é, ao mesmo tempo, a casa e o meio de transporte do casal.
— É muito bom olhar pra trás e ver o quanto está sendo bom. Muitas vezes a gente dá tanta importância para o que os outros dizem e acabamos não fazendo as coisas e acabamos vivendo sempre o mesmo. O que a gente viveu nesse ano ninguém nos tira — conta ele.
Rafael e Sana cruzam o Brasil costeando o litoral. Quando saíram de Caxias, seguiram pelas praias gaúchas e catarinenses, mas também visitando outros municípios do entorno. Em média, ficam de quatro a cinco dias em cada destino, tempo que pode variar conforme as boas surpresas vão aparecendo pelo caminho.
Em Curitiba (PR), por exemplo, chegaram a ficar por duas semanas. Se encantaram com a cidade.
— É sensacional, foi um dos lugares mais bonitos e aconchegantes para receber um motorhome — descreve Rafael, que também realizou o sonho de conhecer as Cataratas do Iguaçu.
Sana tem a missão de fazer os roteiros de passeio em cada cidade, enquanto Rafael tem a incumbência de pesquisar no mapa qual é o melhor trajeto. Evitam pernoitar em capitais pelo receio da falta de segurança. Por isso, também baseados em relatos de outras pessoas que viajam o país em um motorhome, decidiram viajar pelo interior de São Paulo até chegar a Minas Gerais - desta forma, não passaram pelo Rio de Janeiro.
Em Minas, os dois contaram se encantar com a receptividade dos mineiros. Inevitavelmente, acabam chamando a atenção nos lugares onde passam, o que sempre rende boas conversas, convites para jantares e até amizades.
— Em Belo Horizonte, conhecemos um casal na Lagoa da Pampulha que também tem o sonho de viajar em um motorhome. Trocamos contato e acabamos sendo convidados para jantar com eles. Antes, tínhamos comentado que naquele dia estávamos completando um ano morando dentro da van. Quando chegamos para jantar, eles nos receberam com um bolo e cantamos parabéns para comemorar a data. Foi muito legal — relembra.
Em meados de julho, viajaram pelo Espírito Santo. Na cidade de Vila Velha, o primeiro perrengue: o coxim do radiador do motor home estourou. Encontraram preços altos para o conserto, que acabou sendo feito por Rafael. Ele também foi responsável pela montagem do motor home antes da saída em Caxias.
Ficaram 12 dias parados.
— Tudo que a gente puder economizar, a gente vai fazer para seguir o planejamento. Quando vimos que é caro e que podemos fazer, vamos fazer — afirma Sana.
Mais adiante, quando chegaram na Bahia, outro percalço.
— Logo que chegamos em Porto Seguro, um caminhão cortou a nossa frente e destruiu o retrovisor do lado do motorista. Foi um susto muito grande. Acionamos o seguro e ficamos mais alguns dias parados — conta ela.
Em Aracaju (SE), Rafael realizou um sonho: visitou o avô que mora na cidade. Desde criança sempre falava que um dia iria visitar o familiar, que ia a Caxias de carro - o que ajuda a entender os motivos do caxiense ter sonhado tanto com viajar pelo país.
Custos de R$ 3 a 4 mil mensais
Rafael e Sana deixaram os empregos fixos e juntaram as economias antes de iniciar a viagem. Não se trata de um período sabático: eles seguem trabalhando e a principal renda durante a jornada pelo país vem do tráfego pago - uma estratégia de marketing na qual empresas pagam para que seus anúncios na internet sejam exibidos para um determinado público-alvo.
Os dois também têm parcerias com marcas que aparecem no Instagram, o @saiviajando, que acumula mais de 6,3 mil seguidores.
Por mês, eles chegaram a gastar entre R$ 3 e R$ 4 mil, com combustível, alimentação e acessos aos locais pagos que visitam. O orçamento, segundo Busatto, está dentro do planejado.
— Os custos que temos na estrada são os mesmo quando tínhamos residência fixa. Temos tudo muito pensado. O maior gasto é com o diesel, que brinco que é a prestação da nossa casa — garante.
Os dois vão passar o Ano-Novo no Ceará e, no dia 3 de janeiro, começam a descer para o Sul. Vão passar pelo Piauí, Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso até à região. Pretendem passar o próximo Natal com a família em Caxias do Sul.
— Em Brasília, estamos pensando em pegar um avião e ver a família. Passamos pela primeira vez o Natal longe. Dá um aperto no peito. É o ônus e o bônus de ir atrás dos nossos sonhos. De qualquer forma, queremos chegar em Caxias até o fim do ano — conta Rafael.
Depois de recarregarem as energias, os dois já sabem o que fazer: vão descer pela América do Sul até chegar a Ushuaia, na Argentina - no chamado fim do mundo.