Dois meses depois de o primeiro caso ser divulgado, o mistério das sementes recebidas pelo correio sem solicitação foi parcialmente esclarecido. Em 47% das 36 amostras analisadas pelo Laboratório Federal de Defesa Agropecuária em Goiás, foi identificada a presença de pragas que trazem ameaça fitossanitária ao Brasil. A origem e razão do envio, no entanto, seguem sendo apuradas. Enquanto isso, novas comunicações de recebimento de envelopes seguem sendo feitas. No Rio Grande do Sul, segundo Jairo Carbonari, chefe do Departamento de Defesa Agropecuária da superintendência regional do Ministério da Agricultura, são 78 coletas, incluindo o material que chega via Secretaria da Agricultura.
— Semanalmente continuam chegando, de uma a duas amostras. A identificação de pragas desconhecidas feita até o momento mostra que o trabalho de prevenção deve ser fortalecido, nas avaliações de risco, nas fiscalizações de material que ingressa no Brasil e na conscientização da população — reforça Ricardo Felicetti, chefe da divisão de Defesa Sanitária Vegetal da Secretaria da Agricultura do Estado.
Conforme o Ministério da Agricultura, entre as espécies detectadas, estão a Myosoton aquaticum, causadora de danos em lavouras de trigo na China, e a Descurainia sophia, considerada planta daninha nos Estados Unidos e Canadá, e invasora no México, Japão, Coreia, Chile e Austrália. Ambas são inexistentes no Brasil, mas têm potencial de serem quarentenárias, ou seja, de risco de se estabelecerem no país, podendo causar problemas em plantas.
Feliccetti lembra que, uma vez estabelecidas, essas pragas (plantas daninhas, fungos, bactérias) podem, além dos transtornos nas lavouras, levar à restrição ou ao fechamento de mercados.
Na divulgação dos resultados parciais, Carlos Goulart, diretor do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas do ministério, reforçou:
— Após análises laboratoriais, pode-se avaliar que a introdução de material de propagação (sementes ou mudas), mesmo em pequenas quantidades, sem atender aos requisitos fitossanitários e de qualidade estabelecidos pelo ministério, coloca em risco a agricultura brasileira.
A pasta reforça a necessidade de cuidados (veja abaixo), reforçando que a importação de sementes e mudas autorizada segue um conjunto de regras estabelecidas e é acompanhada pela fiscalização.
Antes do primeiro caso ganhar repercussão, em setembro, o Ministério da Agricultura havia emitido um alerta de casos semelhantes que estavam sob investigação nos Estados Unidos. Sem terem sido solicitados, os envelopes chegam junto com encomendas feitas ou até mesmo por quem não fez solicitação alguma. Uma das suspeitas é de que seria uma estratégia conhecida como brushing, que tem como objetivo deixar o país de origem bem posicionado em rankings de e-commerce.
O QUE FAZER
O procedimento recomendado caso receba esse tipo de pacote:
- Coloque em um saco plástico e encaminhe à inspetoria de defesa agropecuária, para ser destinado a análise e descarte adequado
- Não plante, enterre ou jogue fora o pacote. Não viole a embalagem para não expor o conteúdo ao ambiente
- A importação de sementes só pode ser feita seguindo regras e com acompanhamento do Ministério da Agricultura