A ameaça trazida pela nuvem de gafanhotos na vizinha argentina colocou o Rio Grande do Sul em alerta e evidenciou o trabalho de proteção à produção agropecuária, que normalmente passa despercebido. É o feito por técnicos que atuam na área de Defesa Vegetal da Secretaria da Agricultura. Cabe a eles, em parceria e dentro da legislação estabelecida pelo Ministério da Agricultura, a tarefa de monitorar e manter longe problemas indesejáveis, como o inseto devorador de plantações.
Entram ainda na categoria de pragas fungos, bactérias, vírus, plantas e outros insetos.
– O trabalho de vigilância é silencioso. A atuação é na prevenção, no monitoramento. E, enquanto a praga não chega, não chama a atenção – observa Ricardo Felicetti, chefe da Divisão de Defesa Sanitária Vegetal.
O grupo conta com 58 engenheiros agrônomos, cinco engenheiros florestais e 26 técnicos agrícolas. Têm no radar 8.077 unidades de produção cadastradas, com mais de mil ações de fiscalização e inspeção realizadas anualmente.
Foco total nos insetos
A rotina do fiscal estadual agropecuário Juliano Ritter mudou consideravelmente da noite do dia 23 para o dia 24 de junho. Desde então, a nuvem de gafanhotos da espécie Schistocerca cancellata tem sido o despertador diário – e também a última notícia do dia do engenheiro agrônomo lotado em Itaqui, na Fronteira Oeste. Diariamente, ele monitora condição de vento e temperatura (dois itens que influenciam na movimentação da praga). Procurado por produtores preocupados com o problema, passou a enviar para os sindicatos rurais da região boletins com a situação do momento. Por ora, o controle bem-sucedido em Entre Ríos, após aplicações feitas no final de semana, e o tempo frio reduzem a preocupação. O alerta se mantém, e o contato diário com o Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar da Argentina (Senasa) também.
– Nossa preocupação maior é verificar como está a nuvem no norte da Argentina – reforça.
Outro problema deverá vir mais adiante: são as crias dos ovos depositados pelos gafanhotos.
Controle de inimigos conhecidos e de ameaças
A paranaense Michelle Cristine Rodrigues Gomes atua como fiscal agropecuária no Rio Grande do Sul há seis anos. Com pós-graduação em Proteção de Plantas, a agrônoma atua na região de Dom Pedrito, na Campanha. Mais recentemente, quando a nuvem de gafanhotos se aproximou do Uruguai, também ficou em alerta. Uma das diferentes funções desempenhadas pelos agentes.
– Periodicamente, quando começa a safra soja e de milho, temos programas de monitoramento – conta Michelle.
Para essas culturas, as ameaças recorrentes vêm da ferrugem asiática (fungo), mosca da haste (inseto) e a Amaranthus palmeri (planta daninha). No radar do controle também estão pragas que ainda não desembarcaram no território gaúcho. Uma delas é o cancro da videira, bactéria que ameaça a uva, produto importante da região da Campanha.
Pomares sob vigilância
Trabalhando em Vacaria, maior produtor de maçã do Estado, a agrônoma e fiscal estadual agropecuária Liese Pereira tem entre as missões manter a fruta longe de pragas como o cancro europeu das pomáceas. Causada por fungo, ataca ramos e tronco, podendo afetar a fruta. Está na lista de controle oficial e exige fiscalização e monitoramento.
– O custo para controle dos sintomas é alto. Isso reforça a importância da defesa – diz Lise.
Outra ação é de manutenção do status de Estado livre da Cydia pomonella, obtida em 2014. Um total de 150 armadilhas de feromônios instaladas na cidade ajudam na vigilância.