Elas podem ser insetos, como no caso da nuvem de gafanhotos que percorre a Argentina, fungos ou doenças. As pragas deixam em alerta o setor produtivo principalmente quando são fenômenos novos ou raros, que obrigam a criação ou a revisão de protocolos de controle e até a adoção de medidas excepcionais, como o estado de emergência fitossanitária. A condição foi determinada em portaria do Ministério Público e está em vigor, neste momento, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina por conta do do caso no país vizinho.
A situação de preocupação trazida pelo desconhecido e por potenciais danos à produção já foi vivida em outros momentos no Estado. O mais recente, na safra 2012/2013, quando a lagarta Helicoverpa armigera começou a se proliferar em outras regiões brasileiras, provocando estragos significativos em lavouras de algodão e de soja — e prejuízos estimados na casa dos bilhões. Registrada na África, Ásia, Oceania e Europa, foi identificada no Brasil naquele ano. Com um detalhe: era muito parecida com outra lagarta já existente, a Helicoverpa zea, popularmente chamada de lagarta da espiga do milho. A confirmação da espécie só era possível em análise de laboratório.
— Foi um momento bastante delicado. As pessoas correndo atrás de produtos. Neste episódio dos gafanhotos, a antecipação dos órgãos traz uma tranquilidade. Já tem uma ação específica pronta — avalia Alencar Rugeri, diretor técnico da Emater.
Ele lembra que à época da Helicoverpa armigera a instituição fez eventos pelo Interior que lotaram com produtores buscando informações. A confirmação em solo gaúcho foi na safra 2013/2014, em diagnósticos feitos pelo Laboratório de Manejo Integrado de Pragas (LabMIP) da UFSM. O professor Jerson Guedes fez um treinamento em Brasília para fazer a identificação:
—Depois, a gente recebia de diferentes locais do Rio Grande do Sul essas populações coletadas em armadilhas de feromônio (substância produzida pelas fêmeas, que atrai os machos). Essas coletas vinham de carro, de ônibus e chegavam no laboratório, e a gente confirmava, isso já na safra 13/14. Com os dados desses diferentes locais de ocorrência a gente fazia mapas e divulgávamos.
Nos anos seguintes, a ocorrência reduziu de forma significativa. O frio é apontado como uma das possíveis razões para a lagarta não ter no Estado a mesma dimensão de outras regiões do país.
FERRUGEM ASIÁTICA
A doença é causada por um fungo ( Phakopsora pachirhizi ), que ataca as lavouras de soja. As primeiras ocorrências no Brasil foram na safra 2001/2002. E se tornou uma grande dor de cabeça pelos prejuízos econômicos causado à produção do grão. Um dos desafios é a facilidade de dispersão dos esporos. Produtos foram desenvolvidos para o controle e um consórcio antiferrugem monitora em tempo real os registros no país.
O controle é feito, mas a resistência desenvolvida aos produtos aplicados é um ponto de atenção. Já adotada em outros Estados produtores de grãos, a medida do vazio sanitário deve ser adotada no Rio Grande do Sul como maneira de preservar a soja e evitar a resistência aos fungicidas existentes, explica Ricardo Felicetti, diretor do Departamento de Defesa Vegetal da Secretaria da Agricultura. A medida consiste em estabelecer um período do ano em que não se pode ter plantas vivas e calendário de plantio do grão.
— Sem a planta o fungo não tem do que se alimentar. É mais ou menos o isolamento social na covid-19 — compara Felicetti.
O Estado aguarda normativa do Ministério da Agricultura que está por sair sobre regramento do vazio sanitário.
CYDIA POMONELLA
Detectada pela primeira vez no Brasil em 1991, a Cydia pomonella, conhecida também como lagarta da maçã, provoca prejuízos em macieiras e pereiras. Segundo histórico da Embrapa, a introdução se deu por meio fruta infestada vinda do Exterior e comercializada em área urbana. Trazia prejuízos significativos e tinha potencial para destruir pomares inteiros.
Em 2014, o Brasil se tornou livre da praga, sendo o primeiro país no mundo a obter o selo de erradicação, obtido após dois anos sem registros de ocorrências.