— O que for verde, eles vão pegar — aponta Alencar Rugeri, diretor técnico da Emater sobre o apetite da nuvem de gafanhotos que ameaça chegar ao Rio Grande do Sul.
No Estado, o risco neste momento recai sobre as pastagens de inverno, usadas na alimentação do gado, e sobre lavouras da estação do frio, que estão nas etapas iniciais de desenvolvimento. Na regional da Emater de Ijuí, no Noroeste, aveia branca e canola estão mais adiantadas. Trigo e cevada foram, na sua grande maioria, implantadas. E encontram-se na parte do ciclo em que têm entre uma e três folhas, com o aspecto visual parecendo o de uma grama um pouco mais alta. As pastagens estão em diferentes etapas, porque o plantio é escalonado, mas poucas estão por emergir.
— Neste período, as pastagens seriam seguramente vulneráveis, mas não tem pastos altos, uma das preferências. Ele pousa no que é mais visível na superfície, qualquer anteparo: cerca, porteira, plantas altas, frutíferas. Seguramente chegariam em pastagens, na Fronteira Oeste, talvez pegando resteva de arroz. Se andasse para Noroeste, poderia chegar nas culturas de inverno — acrescenta Jerson Guedes, do Laboratório de Manejo Integrado de Pragas (LabMIP) da UFSM.
Outro risco seria se avançasse, no Sul, para a área da Campanha, em Bagé, Dom Pedrito, com chance de atacar frutíferas que têm folha neste período acrescenta Guedes. O Oeste e o Noroeste eram inicialmente áreas apontadas para possível deslocamento da praga. Com a alteração da rota no país vizinho, a atenção começou a se voltar mais para o sul do Estado, na fronteira com o Uruguai.
— Diminuiu um pouco o medo dos produtores porque a rota está mais abaixo, mais ao sul — explica Gilberto Bortolini, engenheiro agrônomo responsável pela área vegetal na regional de Ijuí da Emater.
A partir de análise feita da rota e das distâncias percorridas no país vizinho, pesquisadores do Laboratório de Manejo Integrado de Pragas da UFSM avaliam como pouco provável a chegada da nuvem ao Estado. O professor Clerisson Perini calculou que a praga andou 5t0 quilômetros na movimentação que fez dentro da Argentina, entrando pela parte norte e se deslocando em direção ao sul. Infográficos são elaborados com auxílio do engenheiro agrícola Tiago Colpo. Na quarta-feira, a equipe fez encontro virtual com técnicos da Emater, para dar orientações.
Um manual de identificação está sendo elaborado. A ideia é que, diante de uma suspeita, o laboratório possa ser acionado, para confirmar se trata-se ou não do gafanhoto migratório sul-americano (Schistocerca cancellata).
— O último fenômeno dessa grandeza foi a chegada da lagarta Helicoverpa armigera, em 2012. Foi um fenômeno que nos levou a um alerta e que fez com que nos preparássemos com conhecimento — lembra o diretor técnico da Emater.
Leia mais colunas de Gisele Loeblein
Siga Gisele Loeblein no Facebook