À primeira vista, o impacto do tempo seco fica evidente no meio rural, sobretudo nas lavouras de milho já perdidas para a falta de umidade. Os efeitos dos problemas climáticos deste ano, no entanto, seguirão sendo sentidos dentro e fora do campo. Só a regularidade e o volume de precipitações podem estancar os prejuízos consolidados e evitar que novos se acumulem. Razão pela qual todo o Estado deve torcer para que a previsão se confirme, com dias seguidos de chuva.
Da retomada da umidade depende, por exemplo, a produção de carne no curto e no médio prazo. Pastagens danificadas representam menos alimento disponível para o gado na fase de engorda. Também afeta o ciclo reprodutivo. A prenhez das vacas, por exemplo, depende da boa nutrição, reforça o professor do departamento de Zootecnia da UFRGS, José Fernando Piva Lobato:
– Sem condição corporal, não há concepção. Se a vaca não conceber, não nascem animais no próximo ano, interferindo na oferta de terneiros em 2022 e de novilhos em 2023.
O impacto segue em cadeia, chegando ao produto final. Ou seja, a falta de alimento adequado deste momento pode trazer implicações para os próximos três anos.
– Estamos sofrendo há 12 meses, seja por seca ou por geadas. Mesmo que venha a chover, já deixou sequelas – completa Lobato.
Situação que se repete com o gado de leite. Com estiagem no verão passado, atraso nas pastagens de inverno, geada em agosto, afetando o milho plantado mais cedo, e posterior falta de chuva, a comida para alimentar os animais é escassa.
– Tem produtor recolhendo palha de trigo e fazendo feno para dar um pouco de fibra aos animais. O impacto principal é daqui para a frente – assegura Marcos Zimmermann, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Crissiumal, no Noroeste.
O milho silagem tem perdas em volume e qualidade, obrigando o produtor a suplementar com ração. A medida amplia custos já em alta pela valorização de grãos.
– O leite não é como a soja, que tem ciclo curto. Todos os prejuízos vão se acumulando, na produção e na reprodução – observa Jaime Ries, assistente técnico estadual da Emater.
Ele entende que há chance de recuperação e plantio de pastagens de verão. Para isso, claro, a chuva tem de continuar.