No calendário das estações, estamos oficialmente na primavera. No ciclo da safra, em período de plantio. Ainda assim, em lavouras de algumas regiões do Rio Grande do Sul, a impressão é de que o tempo voltou ao verão passado, quando a estiagem cobrou um preço alto. É claro que tem muita água para rolar, literalmente, até a colheita, mas o início do safra de verão com condições desfavoráveis, com chuva escassa, acende o alerta.
Há culturas e áreas onde as perdas são uma realidade. Depois de visitar propriedades em Alpestres, no noroeste do Estado, Carlos Joel da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS) afirmou:
– Vimos famílias já calculando os prejuízos pois, se não chover nos próximos dias, o plantio de soja não poderá ser realizado e o milho, que já está na lavoura, não desenvolverá grão, impactando também a produção de leite.
Milho, tabaco e citros estão entre as produções afetadas pela falta de umidade. Também compromete as culturas de inverno, caso do trigo, em pleno período de colheita.
No principal produto do verão, a soja, o plantio desacelerou em razão do tempo seco. Levantamento da Emater mostra que a área semeada chega a 5% dos mais de 6 milhões de hectares previstos.
– Cada dia que passa, mais concentrada fica a semeadura. E, com isso, também, os riscos – alerta Alencar Rugeri, diretor-técnico da Emater.
Ele acrescenta que, mesmo a atual etapa de desenvolvimento das lavouras não sendo de alta demanda hídrica, há falta de chuva. No caso do milho, o período de maior suscetibilidade ao tempo seco é mais adiante. O que não impede efeitos negativos nesta fase.
– Os efeitos de uma estiagem nesse período são diferentes. Mas já há perdas, que poderão ser de produtor, de região ou de Estado – pontua Rugeri.
Além da estiagem vivida no último verão, as projeções de influência do La Niña ampliam a tensão. O fenômeno pode ter como efeito a redução das precipitações, algo que já está sendo previsto para os meses de novembro e dezembro.
A safra está longe de definida neste momento. O ciclo de verão vai além, e para a soja, é fevereiro o mês crucial.
De toda a forma, a arrancada difícil preocupa, e reforça a necessidade de ações contínuas para que riscos sejam reduzidos, já que o tempo é incontrolável.