Produtor com quebra de safra tem medo da falta de chuva. É por isso que a previsão de que registro de La Niña sempre acende um sinal de alerta no Rio Grande do Sul. O fenômeno que consiste no resfriamento das águas do Oceano Pacífico aletra a dinâmica dos ventos e, para o Estado, tende a trazer como efeito a escassez de chuva, condição que sempre preocupa. Principalmente porque a expansão da fronteira agrícola tem se dado na direção sul do Estado, tradicionalmente mais seco do que a Metade Norte. Especialistas avaliam, no entanto, que o prognóstico não é, necessariamente, sinônimo de maus resultados.
Além disso, neste momento, a perspectiva é de La Niña de fraca intensidade, quando condições regionais costumam predominar em relação aos efeitos do fenômeno, observa Flávio Varone, meteorologista da Secretaria da Agricultura:
— Nem todo La Niña ou El Niño traz as consequências possíveis. A previsão é de que os meses de novembro e dezembro possam ter redução de chuva. Para o verão, a tendência não é, neste momento, alarmante.
Estudo feito pelos pesquisadores Ronaldo Matzenauer, Bernadete Radin e Alberto Cargnelutti Filho, cruzou dados de safra e ocorrência de El Niño ou La Niña no Estado no período de 1974/1975 a 2016/2017. A conclusão foi de que não há diferença significativa de rendimento entre os anos com e os sem influência dos fenômeno.
O último La Niña foi registrado na safra 2017/2018, quando o Estado teve boa colheita no geral, ainda que os resultados da produção no Norte e Sul tenham sido diferentes. O primeiro escapou praticamente ileso dos efeitos. O segundo, não.
De toda forma, as condições exigem atenção e planejamento. Os meses com chance de umidade reduzida coincidem com etapas importantes do desenvolvimento do milho. A perspectiva de La Niña e o cenário da pandemia acabam trazendo certa indefinição, avalia Ricardo Meneghetti, presidente da Apromilho-RS. Com base nas vendas de insumos e sementes, a entidade projeta manutenção ou leve aumento da área cultivada no RS.
Mesmo com a sombra do clima, o dirigente se diz otimista com o fato de o produtor estar se convencendo da necessidade de irrigação para o cultivo:
— O milho compete com a soja. A expectativa é de que a gente consiga ir incentivando e conscientizando de que é possível se aproximar dessa rentabilidade.
A primeira estimativa da Emater para a safra de grãos de verão aponta aumento de 4,7% na área cultivada de milho. E recuperação na produção total de grãos, com o volume previsto de 32,5 milhões de toneladas, aumento de 40,27% sobre o ciclo 2019/2020.