Aposta de recuperação depois de um verão em que os rendimentos no Rio Grande do Sul foram desidratados pela estiagem, a lavoura de trigo agora se soma às frustrações de 2020. O início foi promissor: a área cresceu 26,4%, somada aos preços valorizados, alimentava a perspectiva de rentabilidade para o produtor. Ingrediente fundamental, o tempo também colaborou na largada. Mas resultado que vale é aquele colhido. Cultura típica de clima frio, o cereal foi impactado pela intensidade da geada registrada no final de agosto. O fenômeno atingiu sobretudo áreas que plantam mais cedo. E causou estragos.
Ainda assim, havia fôlego para seguir adiante, apostando nas cultivares semeadas mais tarde e de ciclos maiores. Comumente afetado pelo excesso de precipitações, dessa vez o trigo sente os efeitos da falta de. Em setembro, na Metade Norte, zona de produção, o volume ficou abaixo da média para o período — em alguns casos, como na área de Passo Fundo, choveu apenas a metade do habitual — como aponta o mapeamento feito pela Secretaria da Agricultura.
A continuidade do tempo seco, somada às altas temperaturas e a projeção de um ciclo de verão sob impacto do La Niña, que costuma ser traduzido na forma de escassez de chuva, formam um cenário de preocupação para a produção não só do inverno, mas também de verão.
— Outubro está sendo sem chuva em todo o Estado. Esperança está em uma frente fria que está na Argentina e pode avançar, trazendo precipitações na próxima semana. Isso pode amenizar um pouco — observa Flávio Varone, meteorologista da secretaria.
Nos prognósticos, no entanto, a tendência é de novembro e dezembro com chuva abaixo da média para o período. Em se tratando de trigo, Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro) enumera três problemas que terão efeito no resultado:
— Primeiro veio a geada, que foi altamente prejudicial na região em que se planta antes. Depois, tivemos esse tempo seco. Nas Missões, por exemplo, não chove desde 20 de setembro. Dia 27 teve uma garoa, insuficiente. O terceiro é que cerca de 950 mil toneladas foram comercializadas antecipadamente, com preços até 15% menores do que os de hoje.
O dirigente observa que tinha expectativa de que o volume produzido chegasse a 3 milhões de toneladas, mas agora estima que fique em torno de 2 milhões de toneladas.