Depois de uma espécie de explosão de consumo, com a corrida aos supermercados nos dias que se seguiram à primeiras medidas de restrição por conta da pandemia de coronavírus, o que se percebe neste momento é o efeito inversamente proporcional em alguns itens. Ou seja: recuo no consumo e nos valores pagos. Levantamento das últimas quatro semanas feito pelo Nespro/UFRGS mostra diminuição de 2,6% no preço médio do boi gordo no Rio Grande do Sul. Passou de R$ 6,50 em 10 de março (chegando a R$ 6,61 na semana seguinte) para R$ 6,33 no dia 31/3. Em dois cortes tradicionais, a alcatra e a costela, a redução foi de 12% e 17,2%.
— Os indicadores do governo estadual por emissão de nota mostram que o consumo da carne, como um todo, inclusive cresceu. Mas na carne bovina, em especial nos cortes de primeira, houve recuo. Em relação o valor do boi gordo, ainda não dá para caracterizar como um período de baixa. Pode-se dizer que os preços estão estáveis — avalia Júlio Barcellos, coordenador do Nespro/UFRGS.
O Sindicato das Indústrias de Carnes do Estado (Sicadergs) confirma recuo médio de até 6% no valor da carcaça.
Há quedas maiores em cortes do traseiro. Por outro lado, os do dianteiro tiveram aumento em procura e cotações.
– A carne de churrasco não tem girado. O consumo é o de carne de panela – observa Pedro Piffero, presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Farsul.
Presidente do Sicadergs, Ronei Lauxen relata que há frigoríficos realizando abates apenas três vezes na semana e que se observa uma certa "sobra" de costela (para os gaúchos, um corte valorizado). Não há no Estado nenhuma planta paralisada neste momento. No país, análise da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) também revela queda nesta semana, especialmente nos cortes nobres. Há 11 frigoríficos paralisados, o que contribui para a desvalorização do preço da arroba ao produtor em 3,5% nos últimos cinco dias.
As vendas no atacado e no varejo registraram queda nesta semana, especialmente os cortes nobres. Prevendo a redução no consumo interno, três plantas frigoríficas de Mato Grosso do Sul entraram em férias coletivas nesta semana. No total, são 11 plantas frigoríficas paralisadas, o que contribui para a desvalorização do preço da arroba ao produtor em 3,5% nos últimos cinco dias.
Dados da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) mostram que o quilo do patinho subiu e desceu ao longo do mês, fechando com valor médio de R$ 31,79, ante média de R$ 32,12 em fevereiro. Mas chegou a estar em R$ 32,31 na terceira semana de março.
— Há duas semanas mudou o mundo, o Brasil, Porto Alegre, tudo. As pessoas foram às compras e teve aumento na procura por cortes de congelados. Mas aquelas churrascadas não existem mais. Em cortes como patinho e picanha tá aparecendo muita oferta — afirma Antônio Cesa Longo, presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas).
Promoções de carne bovina devem ganhar espaço em razão da Semana Santa, quando o pescado começa a ganhar preferência à mesa.