Natural de Bagé, o médico veterinário Miguel Gularte, 61 anos, foi anunciado oficialmente como o diretor presidente da Marfrig. Antes dedicado às operações da América do Sul, passa a responder globalmente pela marca. Em entrevista à coluna, falou sobre as perspectivas do mercado de carne para o ano e sobre o momento vivido em razão da disseminação do coronavírus. Confira trechos.
Qual o cenário que projeta para a indústria de proteína animal em 2020?
Segue sendo promissor. Nosso setor tem demanda que supera a oferta. Nesse cenário em que a demanda supera a oferta e o teu produto tem colocação, independentemente de agora estarmos frente a uma situação atípica para todos os negócios com a pandemia do coronavírus, entendo que temos negócio sustentável, de base sólida. E que a gente tem boas perspectivas. A dúvida que a gente tem é quão longa será essa pandemia. De acordo com o tempo que durar e o impacto que causar, podemos viver situação de maior estresse.
E como estão as exportações? Chegaram a ter problemas para embarques à China?
No nosso caso, afetou menos, a Marfrig viu o share dela crescer da participação brasileira para a China crescer de 19% para 30% em fevereiro, segundo dados da Secex. Isso aconteceu porque nos antecipamos não ao covid-19, porque ninguém é visionário, mas entendemos que havia uma demanda, que possivelmente pelo ano novo chinês ser em 25 de janeiro ocorreria, como sempre ocorre um congestionamento de portos, direcionamos previamente para outros mercados. No caso do Uruguai para Estados Unidos. No caso do Brasil, direcionamos para mercado interno e Oriente Médio e Europa. Quando o mercado deu aquela trancada mais forte, estávamos bastante redirecionados previamente. Isso permitiu que nossa carteira comercial fosse prorrogada e retomada agora com condição de preços mais favorável. Retomamos antes do que as demais empresas, não tínhamos contêineres trancados em porto, nem negociações pendentes.
Neste momento há previsão de parada nos frigoríficos no Brasil por conta do coronavírus?
Caso a caso, cada empresa tem uma estratégia. No Brasil, única parada em 2020 prevista é da fábrica de Tucumã, no Pará, que já tínhamos programado suspensão de atividades, para racionalizar a operação. A grande diferença desse momento que vivemos é que estamos analisando cenário dia a dia, para não dizer hora a hora. Sobre esse cenário e as informações recebidas, a gente toma as medidas operacionais da empresa.
E para as unidades do Rio Grande do Sul?
O Rio Grande do Sul está incluído dentro do esquema geral e com a mesma lógica. Por enquanto, não vislumbramos nada no curtíssimo prazo. O que não quer dizer que à medida que o cenário se defina melhor não se tenha medida para tomar. Neste momento, não tem nada, estamos trabalhando normal.
De que a forma estiagem no Rio Grande do Sul pode afetar mercado da carne?
Normalmente o que gente vê sempre que esse processo acontece, em um primeiro momento, uma oferta mais abundante, até para efeito de aliviar pastagem e liberar espaços. Depois se compensa diminuição a posteriori da oferta. O cenário ainda não está desenhado porque é um processo em andamento. O que a gente sabe é que pelo footprint que a Marfrig diversificado geograficamente, a Marfrig consegue compensar de uma unidade para outra. Isso vale para outros países também.