Envolvido "desde sempre" no trabalho da vinícola da família, a Salvattore, de Flores da Cunha, Daniel Salvador, 36 anos, tem agora a missão de comandar os enólogos de todo o Brasil, à frente da associação brasileira da categoria. Em conversa com a coluna, ele falou sobre a atividade, os concursos de vinhos e a percepção do consumidor sobre o produto nacional. Confira trechos.
Qual o papel do enólogo na produção de vinhos e espumantes?
Tem um papel central. Atua desde a parte da viticultura até o engarrafamento do produto. É o responsável técnico pelo vinho. É ele quem vai dar forma para a uva e criar um filho chamado vinho. Tem muita ciência e paixão. O enólogo tem de ter muita sensibilidade na tomada decisão, porque o vinho não permite que se refaça nenhuma etapa. A diferença para o sommelier é que o sommelier trabalha depois do vinho pronto. São profissões que precisam uma da outra.
Como o consumidor pode usar as competições que premiam a bebida como referência na hora da compra ?
Quando houve a necessidade de medirmos alguns aspectos da bebida, havia necessidade de separar os produtos em grupos. Nunca se falou de melhor ou pior, mas sim do que pode definir uma região ou variedade. Isso foi feito e aperfeiçoado durante muitos anos. O concurso quer levar ao consumidor a informação de que o conjunto da obra está acima dos aspectos técnicos. Nas competições, 30% das amostras são premiadas.
Há um movimento crescente de valorização do vinho brasileiro
Quando você vê um selo de premiação em uma garrafa, indica que aquele vinho foi enviado para concurso e ganhou essa medalha. Como as premiações ficam impressas nas garrafas, o consumidor pode ir no site da competição e verificar detalhes. Outro exemplo é a avaliação nacional de vinhos. Só que a gente não dá medalha de ouro, premiamos os 30% das amostras mais representativas. O selo da premiação indica que, naquele concurso, a amostra teve resultado muito bom, significa que esse vinho tem qualidade diferenciada.
Na sua avaliação, a qualidade da produção nacional é reconhecida pelo brasileiro?
De fato, hoje espumantes ganharam vitrine internacional. E o fato de o espumante ter conquistado paladares mais exigentes, personagens do mundo do vinho que ditam a moda, acredito que a opinião deles tenha impactado positivamente nosso mercado. Há um movimento crescente de valorização do produto brasileiro, não por pena, mas por mérito do produto. Hoje, empresas estão mais maduras comercialmente. Isso está resultando em um trabalho de ponta, com o consumidor. As vinícolas se voltaram para dentro de casa e começaram a fazer gestão, a entender o consumidor. Mas a questão da carga tributária é fato, estamos pagando muito imposto e isso tira nossa capacidade de competitividade, de melhoria tecnológica, embora brasil seja exímio no uso da tecnologia.