O reajuste dos planos de saúde individuais e familiares deve ficar em 8,8%, projetou a diretora-executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Vera Valente, em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) define o percentual, que será aplicado em maio. Pelo balanço das operadoras, houve prejuízo operacional e lucro líquido baixíssimo, ficando quase no zero a zero no último ano. No ano passado, a elevação foi de 15,5%, um recorde de aumento. Os planos coletivos e empresariais costumam ter reajuste semelhante, embora não estabelecido pela ANS. Para minimizar o impacto, operadoras combatem fraudes. Confira abaixo trechos da entrevista e o áudio na íntegra no final da coluna.
Quais são os custos que dispararam ?
Para começar, vivemos um pós-covid, com retomada grande de procedimentos adiados e mudança no comportamento das pessoas, que estão indo mais aos hospitais e usando o sistema de saúde. Os custos também aumentaram na pandemia, de insumos a medicamentos. Junta-se a isso, um número maior de fraudes ao sistema.
Há preocupação que as pessoas deixem de ter plano de saúde?
Sim. Houve um aumento de beneficiários na pandemia, atingimos 50,5 milhões de pessoas. A nossa preocupação é mantê-las e trazer mais beneficiados para o sistema, o que alivia o SUS. O terceiro objeto de desejo do brasileiro é o acesso ao plano de saúde, ao sistema de qualidade. Mas a sustentabilidade dele está sendo colocada em xeque, com as despesas crescendo o dobro das receitas.
Há operadoras com prejuízos bilionários, mas outras com lucro grande. Qual a diferença?
É bom olhar sempre o filme e não a foto. Temos um setor que tem risco e tem 700 operadoras. Existe um índice da ANS que mostra que 40% dos beneficiários estão em empresas que gastam mais do que recebem. É importante diferenciar resultado operacional do financeiro. Quanto maior é a operadora, maior é o fundo de reservas que precisa manter por obrigação regulatória para fazer frente a essa carteira. Então, houve lucro financeiro da aplicação dessas reservas bloqueadas. Ninguém trabalha no mercado de saúde, de altíssimo risco e imprevisibilidade, para ganhar dinheiro com aplicação financeira. Qualquer negócio tem que ser rentável na sua operação, que hoje, para o setor de saúde suplementar, está em risco, deficitária em R$ 11,5 bilhões.
Para reter famílias com orçamento apertado, o que recomendam aos clientes para fazer o plano caber no bolso?
As pessoas estão buscando planos mais básicos para adequar ao orçamento familiar. Há ainda o copagamento (usuário paga a mensalidade e parte da despesa da operadora) como forma de reduzir o valor da mensalidade e também como moderador do uso, ou seja, o consumidor fica mais comprometido em usar da forma correta. Estamos discutindo com a ANS a criação de produtos mais acessíveis, como planos de consultas e exames, mas precisamos da ANS e de mudança na lei.
Quais as fraudes mais comuns?
Tem desde organizações criminosas até nuances de comportamento que fraudam o sistema. Por exemplo, ir ao médico e pedir, ou o profissional oferecer, duas notas para uma consulta. Ou então, fazer um procedimento estético, um botox, e ter notas fiscais de consulta que pode ser reembolsada. A coisa tomou uma dimensão tão bizarra que o Instagram mostra clínicas de emagrecimento colocando "Faça seu tratamento aqui, seu plano cobre tudo." Plano de saúde não cobre procedimentos estéticos, não cobre massagem, não cobre academia.
Colaborou Vitor Netto
Ouça a entrevista na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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