Tem startup gaúcha na lista de empresas que se apresentaram durante o Fórum Encadear, evento que a coluna acompanha em São Paulo sobre cadeia produtiva e sustentabilidade. A Trashin, de Porto Alegre, foi uma das convidadas para falar sobre economia circular, uma modalidade em que o que é produzido volta, de alguma forma, para a indústria. Na lista de clientes há nomes grandes, como iFood, Natura, Tramontina e Alpargatas, a dona da Havaianas. 

- Até pouco tempo, antes da gente entrar no processo com a Alpargatas, não tinha reciclagem da Havaianas. O chinelo estourava, arrebentava a tira, as pessoas jogavam fora e ia para o aterro. A gente ajudou a desenvolver toda cadeia de coleta, de destinação, geração de renda para as cooperativas e recolocar isso na indústria, transformando em produto final, como tapete ou piso de playground. Volta para indústria da Alpargatas também - comentou à coluna Sérgio Finger, CEO da empresa. 

Na prática, a empresa gaúcha desenvolve toda a gestão desse resíduo. Ela faz parceria com as cooperativas para seleção do produto, e também instala pontos de coleta em lojas da Havaianas. Desde o final do ano passado, quando o programa foi lançado, já foram reaproveitadas 18 toneladas de chinelo. Hoje, além do Brasil, o projeto também funciona em países como Estados Unidos, África do Sul, Austrália, Portugal e Espanha.

- Para nós é uma surpresa interessante para empresas grandes, como Alpargatas e Natura nos procurarem. Estamos na ponta, conversando com as cooperativas, com o fornecedor, que muitas vezes têm dificuldade para saber o que fazer com aquele resíduo. E a economia circular é viável também para as pequenas e médias empresas. A gente sempre comenta que o primeiro passo já serve em direção a economia circular. Reduz custos, atrai mais mão de obra, atrai investimento. 

A coluna aproveitou para perguntar como estava a procura por esse tipo de serviço no Rio Grande do Sul. Recentemente, foi noticiado uma parceria entre a Trashin, a Fruki e a Grilo para colocar veículos elétricos coletarem lixo reciclável em Porto Alegre. Finger citou também outro exemplo, da Tramontina. 

- A gente está fazendo com a Tramontina a logística reversa de panela. Algo que até hoje pessoal se questiona: o que fazer com panela. Muita gente pegava a panela quebrada e guardava, ou colocava no lixo, não sabia o que fazer. A gente faz o processo de reciclagem de panela com a Tramontina. Tem ponta com cooperativa, para levantar a matéria-prima que chega, e colocando ponto de entrega voluntária dentro das lojas e dos parceiros da Tramontina. O consumidor pode levar e descartar a panela lá. 

Gargalos da economia circular

E quais são os desafios para que mais empresas possam aderir a esse tipo de projeto? Finger listou três à coluna. Veja os exemplos que o executivo deu:

• Logística. As empresas comercializarem globalmente. Então trazer esse resíduo de volta e colocar na cadeia produtiva é complicado. Temos focado na cadeia local. 
• Valor agregado. O que eu fazer com esse resíduo que volta para a cadeia produtiva? Tenho que ter um produto com valor agregado, que faça com que eu consiga cobrir os custos de fazer com que aquele resíduo volte para minha indústria, e seja rentável versus uma matéria prima virgem. 
• Visão. Olhar indicadores de forma estratégia e agregar valor. Dessa forma, fazer as grandes empresas olharem para isso como investimento, e não como custo. E seja pela vontade das grandes empresas, ou até pela pressão dos consumidores, que vão querer consumir produtos com maior sustentabilidade.

A coluna acompanha o Fórum Encadear 2022 a convite do Sebrae.

Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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