O jornalista Daniel Giussani colabora com a colunista Giane Guerra, titular deste espaço
Malharia bem conhecida da região Sul, o Grupo Malwee, de Santa Catarina, está com um projeto que recria fios de tecido a partir de roupas já usadas, e, com isso, faz novas peças. E o mais curioso é que agora, na segunda fase da iniciativa, estão usando doações feitas à Cruz Vermelha, mas que estão sem condições de uso. A empresa foi uma das palestrantes do Fórum Encadear, evento sobre ESG que a coluna acompanha em São Paulo.
- Esse novo projeto, chamado Des.a.fio, surgiu porque produzir o desfibrado do pré-consumo é comum, mas como produzir desfibrado do pós-uso? Desenvolvemos isso por quase dois anos, e criamos uma metodologia em que pegamos roupa usada, coletamos, reprocessamos o material e, dele, fazemos um novo fio, produzimos uma nova malha, que, por sua vez, produz um novo produto - disse, em entrevista à coluna, a gerente de sustentabilidade Taise Beduschi.
A primeira fase do projeto foi concluída em maio. Na ocasião, eles pegaram roupas coletadas de clientes e parceiros, recriaram o fio e produziram, a partir dele, 1,5 mil moletons - que foram trocados por doações em uma ação social em São Paulo. Agora, no segundo lote de produção, as roupas fazem parte do estoque de doações da Cruz Vermelha, uma das principais entidades humanitárias do mundo.
- Nós fazemos todo esse projeto com colaboração. A Eurofios, que é uma empresa que coleta nossos resíduos hoje, faz esse novo fio para a gente, e manda para nossas malharias confeccionarem as roupas. E na coleta, a gente descobriu que a Cruz Vermelha tem uma série de roupas que acabam não sendo doadas porque não estão em bom estado de uso. A gente fez uma parceria com a Cruz Vermelha e resolveu um problema deles.
Esse novo lote ainda está em produção. Quando os fios estiverem prontos, será estudado que tipo de vestuário poderá ser confeccionado com ele. A coluna aproveitou para perguntar se esse será um projeto pontual, ou de longo prazo.
- A ideia é continuar, assim como foi com o uso do poliéster reciclado, que temos desde 2011, e do algodão desfibrado, que hoje é muito utilizado na indústria, mas que adotamos desde 2008. Sobre esse novo projeto, a gente tem outros desafios para trabalhar, principalmente de custo, para ajustar a fim de viabilizar. Mas tudo começa com o primeiro passo - conclui.
Leia a entrevista:
Quais são as metas do Grupo Malwee para sustentabilidade e o que a empresa está fazendo para atingi-las?
O Grupo Malwee tem uma jornada de sustentabilidade bastante longa. A gente sempre fala que o grande símbolo do grupo, desde a criação, é uma área e 1,5 milhão de metros quadrados com mais de 36 mil árvores plantadas. Essa história já vem dos nossos fundadores, discutindo como resolver impacto da indústria têxtil, que é responsável por 10% das emissões de efeito estufa. Em 2015, a gente resolveu olhar a fundo nossos impactos, e lançou nosso primeiro ciclo de metas para sustentabilidade por um período de cinco anos, onde conseguimos, nesse ciclo, reduzir em 75% nossa emissão de efeito estufa. A gente conseguiu reduzir em 61% nossa geração de resíduos.
Isso requer um investimento alto. O que faz a empresa querer investir nisso?
Primeiro, por conta do propósito. A empresa nasceu com esse propósito, e todos funcionários compactuam com esse propósito. A gente relançou o propósito que o mundo precisa durar, e para durar, ele precisa começar a ser cuidado hoje. É uma questão de urgência. Se não fizermos esse movimento, o mercado inteiro está fadado a morrer. A gente tem que se posicionar como pioneiro. É outra característica do grupo. E queremos motivar o setor inteiro. Sensibilizar o consumidor para que, no momento da compra, ele também olhe para esses aspectos.
Falamos sobre setor têxtil, que gera bastante resíduo. Como vocês trabalham com economia circular? Há um projeto, chamado Movimento Des.a.fio, certo?
Isso. Des.a.fio foi um dos últimos projetos que lançamos. E o nome é apropriado, porque foi muito desafiador. Ficamos 1,5 ano nesse projeto. Ele visa produzir um novo fio a partir de roupas usadas. A gente usa poliéster reciclado desde 2011. O algodão desfibrado, produzido do resíduo da indústria têxtil, que hoje muitas empresas têm, produzimos desde 2008. Já temos um histórico de tecnologia. Também produzimos coisas que, no final, não deram certo, mas que tiveram investimento em inovação. O Des.a.fio foi ver que a gente já produzia o desfibrado do pré-consumo, mas como produzir desfibrado do pós-uso? E aí surgem várias outras perguntas, inclusive de como coletar. O grupo Malwee tem mais de 25 mil clientes. E o consumidor brasileiro, dentro do próprio projeto, ainda não está sensibilizado em reciclar roupa. Mas criamos esse projeto, onde pegamos roupa usada, coletamos, reprocessamos o material, fazemos um novo fio, e produzimos uma nova malha, que produz um moletom. Tem a parceria da Eurofios, que é uma empresa que coleta nossos resíduos hoje. E na coleta, a gente descobriu que a Cruz Vermelha tem uma série de roupas que acabam não doando porque não estão em bom estado. A gente fez uma parceria com a Cruz Vermelha e resolveu um problema deles e conseguiu produzir o novo lote.
Vem de encontro com o que está sendo discutido no Fórum, de criar conexão com pequenas empresas.
Sim, e vai além. Porque quando estamos falando de cadeia, estamos falando de um fornecedor, um prestador de serviços. Quando a gente traz uma Cruz Vermelha como parceiro, é uma colaboração bem inesperada. E acho que é isso que temos que buscar.
Pega roupa usada, desfaz a roupa e refaz um fio novo, é isso?
A gente pega as peças que são adequadas. Não conseguimos fazer com todas as peças. Normalmente as que são de origem vegetal são as mais apropriadas. A gente pega essas peças, pica elas, vai destruindo, para formar uma nova pluma, e a gente produz esse fio, o tece e produz a nova roupa.
Isso é feito na indústria de vocês?
A parte de desfibragem e de fiação é feita no fornecedor Eurofios, e a malharia e tecelagem nas nossas fábricas.
E estão no segundo lote, agora?
Como recebemos peças usadas de diferentes fornecedores, o produto muda. No primeiro lote, tivemos uma característica de produto, que permitiu que criássemos o moletom. Agora, no segundo lote, vamos analisar as características para gerar um novo produto. Vamos trabalhar no fio.
Vocês venderam os produtos do primeiro lote?
Não, a gente fez uma ação social. A gente fez uma campanha na Avenida Paulista, em São Paulo. A gente trocou por cinco peças de roupa. As pessoas se inscreviam, iam na Paulista, e trocavam.
Quanto tempo de produção?
O projeto de desenvolvimento levou entre 1,5 ano a 2 anos. Porque fizemos várias pesquisas. Tivemos que pesquisar muito. O moletom foi lançado em maio. Começamos uma coleta para novo lote, estamos no processo de produção, e agora precisamos de cinco a seis meses.
É um projeto de longo prazo?
Sim. A gente tem outros desafios que não a característica do produto. De custo, para ajustar para viabilizar. Mas tudo começa com o primeiro passo.
A coluna acompanha o Fórum Encadear 2022 a convite do Sebrae.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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