Em reunião com empresários brasileiros na Hannover Messe, Rômulo Neves, chefe do setor de promoção comercial da Embaixada do Brasil na Alemanha, falou sobre a falta de energia com as sanções da guerra, o discurso alemão sobre o meio ambiente e a aposta na política industrial do país para o setor. Confira trechos da entrevista concedida pelo diplomata depois do painel e, abaixo, o áudio na íntegra:
A Alemanha enfrenta o desafio energético com o corte no fornecimento de gás pela Rússia. O discurso é de fim da dependência e revolução no setor. Mas a situação está gerando temor de crescimento do uso de carvão. O que está ocorrendo?
Falta energia. Eles não produzem energia renovável. Então, precisam buscar em algum lugar ou achar uma alternativa muito rápida com o que eles têm. Eles não têm petróleo, não têm energia hidroeletricidade. Têm carvão, mas não podem usar pela narrativa ambiental. Têm energia nuclear, mas não podem usar pela narrativa ambiental. Então, o que pega é o descolamento entre a realidade e a narrativa. Falta energia. Eles não querem usar energia suja. Eles não têm ainda como produzir hidrogênio na abundância que precisam e não querem passar por uma transição que envolva, por exemplo, o etanol ou célula a combustível. Eles não querem passar por esse processo de transição ou ampliar o prazo pra uso de energia nuclear. Eles querem partir de um momento de crise diretamente para a solução. É possível? Hoje, muita gente já acha que não é possível. E aí o que faz? Volta para o carvão? E aí isso de voltar pro carvão é, digamos, ir contra todo o discurso. Por que não etanol? Por que não célula a combustível? Por que não realmente soluções transitórias, se isso é uma transição energética? Então, é por isso que eu sempre digo que a gente precisa olhar essa narrativa do mesmo modo como a gente olha narrativas que, digamos, mascaram a política industrial. O que está por trás? Temos uma leitura. Isso não é uma crítica aqui, é só uma leitura mesmo. Na verdade, o discurso de transição energética é a parte visível de um projeto industrial. A Alemanha quer, realmente, estar na frente em um momento de eventual virada da produção energética. Se realmente o mundo consegue entrar numa produção de energia a partir do hidrogênio, ela quer estar na frente. Ela quer vender equipamento. Ela quer vender máquina que possa fazer essa transição. Qual é o melhor momento pra uma indústria? Quando você vai renovar tudo que você já vendeu. Então, muitas vezes o que pro consumidor é um problema, não tem recarga elétrica pros carros elétricos, que é a opção que a Alemanha fez. Não tem pra todo mundo. Tem que criar. Ora bolas. Isso para a indústria é ótimo. É venda, é produção, é emprego. A gente vai ter que mudar tudo.
Qual é a burocracia para negociar com a Alemanha?
As empresas brasileiras precisam aprender a lidar com essa burocracia, se preparar no Brasil e vir pra Alemanha, claro, com um bom produto, com um bom pós-venda, mas com planejamento de, pelo menos, médio prazo. Uma pequena parte da burocracia são documentos mais ou menos parecidos com os nossos do Brasil. Outra parte advém de uma tendência protecionista da Alemanha. Então, muitas vezes, é certificação industrial, certificação sanitária, no caso de agronegócio, certificação de provas de funcionamento. Tem toda uma regulamentação que o produto brasileiro precisa passar para chegar aqui na Alemanha. Até o regulamento simples do Inmetro daqui, para o empresário brasileiro que não fala alemão, é um pouco difícil.
Para quem exporta e para quem produz aqui?
Isso, estou falando da exportação. Para ter operações, é até mais simples, porque que veja: o governo da Alemanha tem um programa industrial, então quer a indústria aqui, quer manter empregos aqui. Tem a agência de atração de investimentos da Alemanha. Se o empresário brasileiro quiser investir aqui, é mais fácil do que vender aqui, porque eles querem ter empregos aqui, empregos industriais.
E, sim, além de diplomata, Neves é ex-BBB e jornalista.
Ouça a entrevista completa:
* A coluna viajou à Hannover Messe a convite da Fiergs (Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul).
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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