A inflação oficial do país veio em 1,62% para março, acima do cerca de 1,35% previsto pelo mercado. Parece pouco, mas o estrago é grande. Aumento de preços maior do que se projeta significa elevação maior de juro, o remédio amargo do Banco Central que deixa o crédito mais caro, piora a vida dos endividados e trava a economia. Cresce agora o número de instituições que projetam Selic acima de 13%.
O aumento está disseminado. O reajuste da Petrobras apareceu na gasolina, no gás de cozinha e no diesel, com o seu já conhecido efeito em cascata. Os carros não param de ficar mais caros, e o presidente do Sindicato das Concessionárias de Veículos do Rio Grande do Sul (Sincodiv-RS), Paulo Siqueira, já projetou no programa Acerto de Contas, da Rádio Gaúcha, elevações de 2% a 3% a cada 60 dias, devido aos insumos mais caros, em parte devido à guerra.
Alimentos, como nosso bolso já grita, estão entre as principais pressões. Inflação do tomate, da cenoura e das frutas em geral até pode amenizar com a melhora do clima, mas a alta de fertilizantes, energia e diesel seguirá pressionando a comida. A alta do leite recém começou a aparecer na inflação. No caso do pão, o impacto vem da disparada do trigo pela guerra, o que se sabe também afetar massas e biscoitos. Aliás, os preços de commodities alimentares, como grãos e óleos vegetais, atingiram níveis recordes em março, em grande parte por causa da invasão da Ucrânia pela Rússia, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Os problemas de abastecimento estão ameaçando milhões de pessoas na África, no Oriente Médio e em outros países a sofrerem com a fome e a desnutrição.
Os próximos "IPCAs" até podem vir menos intensos. Mesmo contra a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o presidente Jair Bolsonaro tirou a cobrança extra da conta de luz colocando bandeira tarifária verde para abril. Mas isso pedala os aumentos para depois, quando distribuidoras terão que pedir empréstimos maiores para cobrir rombos, o que será cobrado com juro nos encargos da conta de luz em 2023.
"Qualitativo bem ruim. Serviços voltaram a subir, difusão subiu um pouco. Apenas bens vieram em linha, ainda na máxima histórica. Pegando agora monitorados e alimentos (que são menos relevantes pra Copom) tivemos duas surpresas muito fortes para cima. A gasolina e gás de botijão foram importantes nesse sentido, refletindo os reajustes da Petrobras. Também houve surpresa nos remédios, esse já há um tempo tem tido altas de preço bem maiores do que o normal e fora do período de reajuste, indicando que não estão conseguindo segurar o repasse do processo inflacionário, principalmente pelo aumento do custo de insumos importados. Já os alimentos estão passando por um choque desde fevereiro, relacionado com clima e também com a alta das commodities.", avalia o economista João Fernandes, da Quantitas Asset.
"A inflação de dois dígitos deve continuar a assombrar a economia brasileira por um longo tempo. Mais do que o número em si, a alta assusta pelo que representa: perda acelerada do poder de compra, principalmente das camadas de menor renda da população, em itens básicos como alimentos e combustíveis. E não há sinal de que o quadro vá se reverter, pelo menos no médio prazo. Ao contrário. Os juros continuam a subir aqui no país, em uma tentativa do Banco Central de reduzir a inflação – um remédio que, isoladamente, não cura a doença, e tem como um de seus efeitos colaterais a retração econômica. Como consequência, mais problemas à frente, entre os quais se destaca a possibilidade de maior desemprego.", diz o economista, professor do Insper e CEO do Siegen Consultoria, Fábio Astrauskas.
"O recente anúncio de redução da bandeira tarifária de energia, de Escassez hídrica para Bandeira Verde, pode trazer algum alívio para a inflação – ou seja, conta de luz mais barata (20%). Mas ela só será sentida após segunda metade de abril e início de maio. A inflação segue disseminada e será um fator importante para a próxima reunião do Copom (maio/2022), que já sinalizou um aumento de 1,00 p.p. A nossa expectativa é de que o Banco não encerre o ciclo de altas na próxima reunião e leve a taxa acima dos 13,00% a.a.", analisa o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung.
Região Metropolitana de Porto Alegre
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março teve alta de 1,61% na Região Metropolitana de Porto Alegre, 1,18 ponto percentual acima da taxa de 0,43% de fevereiro. Essa é a maior variação para um mês de março desde 2015, quando o índice foi de 1,81%. Nos últimos 12 meses, fica em de 10,38%.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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