Desafio de diversos países em 2022, a inflação sofrerá pressão extra e relevante da guerra entre Rússia e Ucrânia. Os impactos na alta de preços que acaba no consumidor vêm de vários lados.
Começa pelo petróleo, com o barril passando dos US$ 100 pela primeira vez em sete anos. A Rússia é um grande produtor, e o conflito gera receio de que a oferta mundial caia. Isso já anula o espaço que a queda do dólar vinha abrindo para que a Petrobras pudesse reduzisse preços de combustíveis no Brasil. A gasolina no Brasil está, hoje, 17% mais barata do que no Exterior, diz o economista João Fernandes, da Quantitas Asset. Ou seja, há espaço até para aumento, o que já começa a ser especulado, mesmo que Petrobras evita mexer em preços em momentos de grande volatilidade.
Nem a injeção de capital estrangeiro no Brasil conseguiu manter o dólar caindo após a invasão russa. O real voltou a se desvalorizar nesta quinta-feira (24). Se isso continuar, o câmbio retoma a pressão sobre a inflação aqui no Brasil, com o Banco Central podendo apertar ainda mais a elevação da taxa de juro.
Combustíveis já têm efeito em cascata sobre preços. O petróleo ajusta o preço do diesel, combustível dos caminhões. Quase 90% do transporte brasileiro de mercadorias é rodoviário. Para quem busca o gás natural como alternativa mesmo que ele esteja subindo mais ainda do que outros combustíveis, lembre-se de que ele também é direcionado por dólar e petróleo.
A guerra tende, ainda, a piorar o gargalo da logística mundial, o que interrompe o alívio com estabilidade e até redução pontual de preços de fretes marítimos. As commodities também estão em disparada, o que se reflete nos preços dos alimentos. Com terras férteis, Pedro Serra, head de Research da Ativa Investimentos, lembra que a Ucrânia é um destaque da agricultura europeia há séculos.
- Atualmente, o país é responsável pela produção de 13% do milho e 7% do trigo mundiais. Além disso, a Ucrânia é um dos maiores exportadores mundiais de outros grãos, como cevada e centeio. Parte substancial das terras agrícolas ucranianas fica na região leste do país, justamente a posição mais vulnerável a um potencial ataque russo. No Brasil, o aumento do preço do trigo já vem sendo impulsionado pelas notícias do conflito ucraniano.
Além disso, uma forte preocupação é com os fertilizantes, que poderá sofrer alta de preços e falta de suprimento. Rússia e Ucrânia são grandes fornecedores desses produtos e dos insumos deles. Fábricas de lá já suspenderam produção. Esses itens influenciam muito nos custos do agronegócio, que terá de repassar esses valores gastos a mais, além de prejudicar ainda mais a rentabilidade do produtor, que, no Rio Grande do Sul, já enfrenta a estiagem.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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