Após passar de 400 unidades, a Lojas Quero-Quero segue em expansão e prepara a entrada em um novo mercado. A empresa tem sede em Cachoeirinha, na região metropolitana de Porto Alegre, e abriu capital em 2020, passando a ter ações negociadas na bolsa de valores de São Paulo, a B3. Recentemente, inaugurou um novo centro de distribuição em Sapiranga e fechou uma parceria com uma joint venture de gigantes da construção civil para participar de um programa de pontos para trabalhadores do setor. Esses foram alguns assuntos que o programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha) abordou com o CEO da empresa, Peter Furukawa. Confira:
Como está a vida de empresa de capital aberto?
Como os resultados estão bons, acho que todo mundo está feliz. Está indo muito bem, a ação performou muito bem. Agora, são muitos fundos, tenho que falar com mais pessoas, toma um pouco mais de tempo, mas também é positivo porque tem muitas ideias boas que surgem das discussões com acionistas.
O varejo de construção sofreu menos restrições e também usufrui de uma mudança no comportamento das pessoas. Por isso, sustenta indicadores gerais da economia, como venda, expansão e geração de emprego. Vocês, por exemplo, abriram agora a loja de número 400, certo?
Correto. Abrimos a loja de número 400 em março. Hoje, já estamos com 406, o número cresce muito rapidamente. Ano passado, falamos que iríamos abrir 50 lojas e o fizemos. Neste ano, a nossa intenção é abrir 70 lojas e já estamos com 76 contratos de abertura, porque algumas atrasam, mas estamos nessa batida. E quanto ao seu comentário do setor de materiais de construção, acho que há dois fatores acontecendo: um, muito importante, é que as pessoas estão em casa, querendo investir mais no lar. Mas também, como os investimentos não estão rendendo muito, tem muita gente partindo para a construção. São pessoas que já tinham vontade de ter uma segunda casa, talvez na praia, na Serra. Não é só uma reforma na casa, mas uma construção. Até no setor de construção civil, de grandes empreiteiras, todo mundo construindo. E, depois, na hora de entrega desses apartamentos, muitos não são acabados. Então, nós, de novo, temos uma venda significativa.
Veja a entrevista em vídeo:
Vocês continuam com aquela característica de varejo de interior?
Sim. Nosso modelo é direcionado para o relacionamento. Ele funciona muito bem onde podemos construir um relacionamento de longo prazo com os clientes. Para você ter uma ideia, 80% de nossas lojas ficam em cidades com menos de 100 mil habitantes. Desses 80%, a média de população é de 27 mil habitantes. São cidades menores, que têm a nossa característica e para onde nós levamos nossos produtos e o crédito. E isso deve continuar assim por muito tempo ainda.
E vocês estão atuando em quais Estados agora?
Nós estamos no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná. A expansão deste ano e do próximo vai ser, majoritariamente, no Paraná e em Santa Catarina. Em 2021, nós temos três lojas na divisa do Paraná com Mato Grosso do Sul e devemos abrir duas ou três unidades passando essa divisa. Nosso diretor de expansão até tinha receio do interior de São Paulo, mas eu falei para ele que era igualzinho. Aí, ele foi lá, passou alguns dias visitando 29 cidades e voltou muito animado, porque é a mesma característica de relacionamento, com pessoas que têm certa falta de produtos. Então, no ano que vem, já devemos ter alguma coisa por ali.
O presidente sabe que eu fico monitorando a Quero-Quero e leio o que os bancos de investimento falam da empresa. Essa expansão para o interior sempre chama atenção pelo custo e concorrência menores. A aposta é seguir nessa linha?
Nós temos duas avenidas muito grandes de crescimento. O mercado de material de construção é muito fragmentado. Toda cidade tem de cinco a 10 lojas vendendo material de construção. Então, mesmo com o tamanho da Quero-Quero, nós devemos ter menos de 10% de fatia de mercado. Obviamente que, em algumas cidades onde estamos há muito tempo, temos mais. Mas tem muito espaço para crescer. Em uma loja nossa, o gerente pode comemorar que está vendendo o dobro, mas talvez saiu de 5% para 10% do mercado. Há muito o que conquistar, tem uma avenida de crescimento. Nós apresentamos nas reuniões de investidores o quanto o mercado cresce e o quanto nós crescemos, o que é muito acima do nesses últimos cinco anos. Então, mudamos uma loja de patamar 1 para 2 ou 3, que são operações maiores. Temos feito isso constantemente. A outra avenida de crescimento é abrir novas lojas. E nós temos uma combinação importante. Quando você é uma categoria só e vai abrir em uma cidade pequena, é muito difícil rentabilizar a operação porque você não tem uma venda muito grande e há outras lojas na cidade. Você vai crescendo pouco a pouco. Só que a Quero-Quero tem a vantagem de ter toda a área de crédito interna, nossa. Não compartilhamos com banco. A venda com nosso cartão representa quase 60% do total. Não temos que pagar taxa MDR para as credenciadoras, nem para os bancos. Toda a rentabilidade do crédito também soma para a loja. O capital que colocamos na loja retorna em um prazo de 28 a 30 meses, o que é muito, muito bom. Quando falamos do retorno sobre capital empregado, estava na base de 40%. O nosso modelo é muito bom para cidades menores. Não funciona para cidades grandes porque, nelas, você precisa de lojas maiores, de 10 mil metros quadrados, cheias de produtos. É outro modelo de trabalho.
Haja centro de distribuição para abastecer tanta loja....
Isso é uma coisa interessante. Nós tínhamos um centro de distribuição em Santo Cristo e em Sapiranga. Eram bem antigos e simples. Agora, abrimos um novo centro de distribuição em Santo Cristo com 28 mil metros quadrados. Para você ver a cultura da Quero-Quero. Por malha logística, o centro de distribuição não deveria fica em Santo Cristo. Deveríamos ter mudado o lugar. Mas, para nós, a equipe o mais importante, e eles são fantásticos! Então, por que que vou mudar? Temos certeza de que aquela equipe vai fazer valer muito mais a pena do que mudar. O mesmo aqui em Sapiranga, com quase 30 mil metros quadrados. Há alguns dias, saíram os primeiros caminhões do nosso novo centro de distribuição. E, em junho, vamos inaugurar o nosso CD de Corbélia (PR), que vai atender toda região ao oeste do Paraná. Conforme vamos crescendo com 50, 70 novas lojas por ano, vamos abrir mais centros.
Quantos funcionários hoje?
São 7,5 mil funcionários.
E quais são os próximos planos?
Fizemos uma parceria com uma empresa que se chama Juntos Somos Mais. O profissional da área, se comprar material das marcas Tigre, Votorantim e Gerdau, ele ganha pontos. Na Quero-Quero, ele pontua comprando qualquer coisa. E nós somos um ponto onde os profissionais podem trocar por produtos. Começamos na região de Pelotas, mas é uma parceria importante para nós.
Muita gente sofrendo impacto da pandemia. Qual sua visão para o mercado?
Podemos medir pela falta de produtos e pelo aumento de preços. Em parte, acontece porque as pessoas estão comprando mais, mas também porque muitas fábricas estão fechadas. Falta aço porque se exporta muito. Eu achava que, até final de março, seria resolvido, mas não foi. E, em junho, se estiver resolvido, vou ficar surpreso. Também acho que existe menos preocupação do que se deveria ter com as aglomerações. Nos feriados, as pessoas fazem muitas aglomerações e, aí, vem a doença e fecha a economia. Precisamos ser mais cuidadosos.
Priorizar a exposição, né presidente?
Exatamente. Precisamos focar no que precisa ser feito agora. É necessário que as pessoas tenham responsabilidade. A vacina vai ajudar muito, mas não vejo um impacto grande antes, talvez, de agosto. Mas ainda acho que o segundo semestre terpa implicações. Quem tem loja em shopping está sofrendo muito, lojas de rua também. Está impossível manter operando um varejo do jeito que estamos hoje. Vejo colegas meus na CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) que são heróis. Eu não posso falar isso da nossa empresa porque somos uma categoria essencial, mas vejo o pessoal sofrendo muito. Se você olhar, não é no varejo onde as pessoas ficam doentes. Na praia e nas casas noturnas, o pessoal começa a beber e tira a máscara. Quando a pessoa vai comprar roupa, fica de máscara. É diferente. Eu já vi restaurantes muito conscientes e temos que abrir dessa maneira. As pessoas precisam viver. Os varejistas não aguentam mais. Logo quando começou a pandemia, falava: cuidem dos seus fluxos de caixa. Hoje, digo: não é no varejo que as pessoas estão pegando o vírus.
Ouça, também, a entrevista ao programa Acerto de Contas (domingos, 6h, na Rádio Gaúcha):
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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