Assim como todas as crises, a pandemia trouxe oportunidades de negócios. O setor de tecnologia de informação viu empresas que estavam resistentes à transformação digital baterem na porta para implementar a digitalização "para ontem". E, com isso, o faturamento cresce a percentuais com vários zeros. Outras empresas adaptaram suas linhas de produção e estoques para o que a economia do coronavírus estava exigindo, como máscaras, álcool gel, além do simples e eficiente sabão, sem contar os pijamas e calçados confortáveis.
Mas, ao mesmo tempo, aparece o oportunismo. Nada contra as roupas, calçados, vapores e outros produtos antivirais e antimicrobianos, que têm algumas funcionalidades eventuais. Mas muito contra a forma como vários desses itens se vendem. Batizados com nomes complexos, carregam símbolos de marca registrada, denominam-se inéditos ou inovadores e listam aprovações por instituições de pesquisa, mas, o pior, prometem eliminar o vírus. Em tempo, veja o alerta da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre isso:
"Assim, o uso de vestimentas ou estofados fabricados com tecidos de propriedade antiviral, embora possa contribuir com certo nível de inativação do vírus na superfície desses objetos e potencialmente minimizar a probabilidade de contaminação indireta pelo contato, não garante proteção total contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2). Além disso, é relevante ressaltar que os revestimentos antivirais ou antibacterianos presentes em máscaras faciais para uso não profissional, atuam essencialmente na superfície do tecido. Ressalta-se que a utilização desses revestimentos não está necessariamente relacionada a uma maior eficiência de filtragem de partículas e de bactérias. Neste contexto, é necessário reforçar que o uso de tais produtos não dispensa a adoção de outras medidas de proteção como distanciamento físico, higienização adequada das mãos, evitar presença em aglomerações, dentre outras, conforme preconizado pelas autoridades de saúde."
Antes de noticiar qualquer uma dessas inovações que pedem espaço no noticiário de negócios, a coluna consulta profissionais que estudam o vírus. A maioria dos produtos não passa pelo crivo por não cumprir requisitos básicos ou não ser eficaz no que promete. Um vapor limpa o ambiente com um produto que é eficaz, sim, mas se entrarem duas pessoas e uma estiver contaminada, a outra segue em risco. Ou seja, a máscara e o distanciamento seguem necessários, mesmo que a dona da tecnologia diga que o ambiente fica desinfetado por dias ou até semanas.
Produtos de limpeza mirabolantes fazem o mesmo do que água e sabão com uma boa lavagem das mãos. Lembram dos túneis para as pessoas passarem e serem higienizadas? Começaram a ser lançados no início da pandemia. Quem instalou em Porto Alegre teve que retirar. O coronavírus está dentro da pessoa e não é eliminado ao se passar pelo túnel, mas o indivíduo é, desnecessariamente, exposto a produtos químicos.
Além de fazer empresas, escolas e outras instituições gastarem mais do que necessário em tempos de crise, o maior risco dessas promessas é provocar um relaxamento para medidas que realmente são importantes para combater o coronavírus, que ainda está por aí ameaçando nos dar um caldo em uma segunda onda. A criança usar roupas e calçados antivirais não elimina o risco de ela pegar o vírus e levar para os avós, por exemplo. Os cuidados mais básicos custam pouco, são tão ou mais eficientes e não podem ser deixados de lado.
Quanto ao oportunismo, as empresas não precisam dele. Inovações com a mão na consciência também podem impulsionar o seu negócio e coloca a sua empresa no centro da responsabilidade social, que os mais otimistas até acreditam ser uma herança que será deixada pela pandemia.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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