Estava eu tomando banho de piscina com as crianças nos meus pais em uma tarde de Carnaval, quando encontrei um antigo colega de redação. Falamos um pouco sobre o trabalho e ele me contou que um cliente que assessora queria que uma informação virasse notícia. Como consultor de comunicação, sugeriu que a pauta fosse oferecida para mim. Então, ouviu:
— Mas nós nunca sabemos como a Giane dará a notícia. Ela é muito independente.
O colega de profissão, que já foi um editor bem exigente, respondeu que esse era o motivo para escolherem meus espaços. Não sei ainda se funcionou ou a informação foi passada adiante, mas mal sabe o cliente que me chamar de independente foi um dos melhores elogios que recebi em 20 anos de jornalismo.
No mesmo dia, outra assessora de imprensa, com quem havia conversado pela primeira vez, sugeriu uma pauta sobre o crescimento da venda de determinado produto. Expliquei que compreendia a importância do percentual para a empresa, mas não identificava a relevância para nosso público, que é bastante amplo. Segui a conversa pedindo outras informações para encontrar o que pudesse mexer com a vida do ouvinte ou gerar curiosidade do leitor. É o que chamo carinhosamente de "espancamento".
Em geral, até provoco as assessorias perguntando o que faria meu pai clicar no link da coluna tirando o fato de que foi a filha dele que escreveu. Funciona tanto que a diretora de um shopping de Porto Alegre já identificou quem é ele nas redes sociais e me marca quando meu pai dá um "like" em alguma pauta com ela. Se clica, mexi com a vida do leitor ou, no mínimo, provoquei curiosidade. E vocês não sabem como valorizo esse clique, assim como quem presta atenção no que falo na rádio. Se pesquisar depois no nosso site em busca de mais informações, fico realizada!
As pautas chegam de várias formas. Quando partem dos leitores e ouvintes, já tenho o primeiro requisito atendido para virar notícia: ser de interesse do público. Informações muito valiosas também vêm de fontes, que muitas vezes nem têm relação com o caso, mas sabem que pode me interessar. Ah, essas moram no meu coração.
Já quando vêm das empresas, costumam chegar do jeito que elas gostariam que eu noticiasse. Geralmente, acompanhadas pelas palavras "inovador" e "pioneiro", o que é do jogo. O assunto, então, passa por um filtro moldado por alguns anos na lida e é analisado com o olhar do público. Não importa o que interessa para a colunista, o assessor ou a fonte, mas sim o que o leitor e ouvinte precisam ou querem saber. E saibam que sai, sim, muita coisa boa dessas sugestões.
Dá trabalho, claro. São centenas de e-mails por dia e outras centenas de mensagens de WhatsApp que passam pela análise inicial antes mesmo de partirem para o espancamento da pauta. A primeira conquista de todo esse processo é credibilidade. Trabalhar sempre pensando no público gera reconhecimento com o passar do tempo. No geral, os leitores já viram eu dar notícias de investimento da empresa, cobrar um ano depois o que não foi feito e também publicar algo negativo envolvendo a companhia.
Há poucos dias, conversava com o executivo de uma empresa com corte de investimentos, que gerou a demissão coletiva de mais de 150 pessoas. Ele disse que não iriam se manifestar na ocasião, mas que eu poderia procurá-los algumas semanas depois para falar sobre pautas positivas, quando a situação esfriasse. Não! Não funciona assim. E perguntei, caso topasse isso, qual a confiança que ele próprio teria na notícia que eu viesse a publicar sobre um concorrente. Afinal, a fonte também é leitora das demais notícias e busca informação confiável.
O espancamento também serve para deixar a informação macia para leitores e ouvintes. Além da credibilidade, isso traz audiência, o que é muito caro a qualquer jornalista. Há quem diga que economia é assunto árido e chato, mas saibam que a coluna está sempre entre as mais acessadas em GaúchaZH.
As fontes hão de concordar que é melhor sua informação estar em espaços de credibilidade do público e de audiência. Vale o "risco" do jornalista independente.
E, leitores e ouvintes, todo o trabalho é por vocês.