Há alguns meses, conversava com o gestor de um shopping de Porto Alegre. Era um papo informal com troca de percepções sobre o consumidor. Contei que sempre que escrevia sobre o setor, leitores e ouvintes comentavam reclamando do preço do estacionamento nos empreendimentos. Foi quando ele respondeu:
— O público de shopping não tem essa preocupação.
Fiquei, obviamente, espantada e disse:
— Olha... Tem sim... E bastante.
Na ocasião, ele não se deu muito por convencido. Já eu, fiquei com essa conversa guardada e provoquei o debate nas minhas redes sociais, quando uma coluna sobre shopping fez os leitores novamente abordarem o assunto. Foram mais de 200 comentários, com alguns destaques:
"Dependendo do que vou comprar, nem vou ao shopping por causa do valor do estacionamento", Iria Cabrera.
"Sinceramente, acho que o estacionamento do shopping é inegavelmente um conforto pelo qual não vejo problema em pagar. Apenas acho que o usuário que compra deveria ter tratamento diferenciado de quem vai passear", Silvio Dorneles.
"É caro, mas prefiro pagar R$ 6 do que deixar na rua e ter o carro roubado", Daniel Drover, que depois foi questionado por vários leitores sobre qual shopping cobrava um valor tão baixo pelo estacionamento.
"Como pode alguém ir almoçar várias vezes por semana e gastar de estacionamento o relativo 20%, 30% do valor do prato???", Adriana Mendes.
"Coloco na rua mesmo. O seguro garante. Prefiro pagar um troco para o flanelinha. Só vale a pena quando tem concessão com supermercado", Jeferson Torres.
Lojistas também comentaram:
"Os lojistas estabelecidos em shoppings também acham que o preço do estacionamento está impactando nas vendas. Isentar quem vai ao shopping comprar seria muito lógico e saudável para todos. Alguns shoppings deveriam inclusive ter estacionamento grátis. Seria um diferencial importante", coordenador do movimento CDLShopping, Carlos Frederico Schmaedecke.
"Está caro, chegando a R$ 14 por 30 minutos. Reduz tráfego de pessoas e prejudica lojistas. A venda online concorre forte", ex-presidente da CDL Porto Alegre e criador da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo, Vilson Noer.
Além disso, leitores também falaram que, em muitos casos, é mais barato ir com carro de aplicativo de transporte. Outros trouxeram os hospitais para discussão, ainda mais pelo usuário estar em um momento de mais fragilidade. Ex-diretor do Procon Porto Alegre e advogado de relações de consumo, Cauê Vieira trouxe uma abordagem interessante também lá nos comentários:
"Tem dois aspectos: o estacionamento no shopping é um diferencial de segurança ao consumidor, que pode realizar suas compras, se alimentar ou simplesmente passear com a expectativa de estar com o seu bem protegido. Muitas vezes, o cliente de shopping opta por frequentar o estabelecimento ao invés de um comércio de rua ou restaurante isolado justamente pelo estacionamento. Para eles, hei de concordar com o gestor . Agora, o outro aspecto é que o estacionamento não se torne fonte de renda direta ao shopping, pois daí o consumidor estranha e reclama. O estacionamento é acessório, e como tal deve ser cobrado. Há de se ter relação de vantajosidade no que se paga para guardar o carro e o gasto médio do consumidor. É absurdo o cidadão pagar R$ 50 para almoçar ou jantar e R$ 25 de estacionamento (...)"
Contribuição interessantíssima veio da equipe do Passo Fundo Shopping, dizendo que a discussão sobre cobrança de estacionamento foi intensa durante toda a organização para a inauguração do empreendimento, que ocorreu em novembro passado. O mesmo foi relatado para o Shopping de Pelotas. Em ambos, o estacionamento é gratuito das 10h às 14h de segunda a sexta-feira, o que é divulgado com força para estimular a ida de clientes neste horário. Além disso, cobra-se R$ 6 por três horas de estacionamento no restante do dia.
Sabemos que o custo de manter um negócio em Porto Alegre é muito maior do que no interior do Estado e também que cada um sabe mais do que ninguém o que pesa na sua planilha de gastos. A leitora Janice Assis inclusive comentou na postagem: "Se vocês soubessem o custo que é pra manter um estacionamento..." Não sei, mas imagino.
Na realidade, a provocação que fiz não era para defender a cobrança ou não de estacionamento em shoppings. Muito menos para julgar se a meia hora deve custar R$ 2 ou R$ 50. No entanto, fiquei espantada em saber que pessoas que trabalham tão diretamente dependendo do consumidor, como o varejo, não sabem dos anseios e descontentamentos do cliente. Até mesmo, porque ter este conhecimento é o primeiro e essencial passo para pensar em uma alternativa, o que é importante em tempos de consumo ainda patinando no pós-crise e shoppings criando 1.001 opções de lazer para atrair os clientes.
Em tempo, não tive autorização do empresário para identificá-lo. É o que chamamos de "off" no jornalismo.
Confira abaixo a postagem e os demais comentários dos leitores: