No auge do impacto da pandemia nas aplicações financeiras, entre abril e início de maio, a rentabilidade negativa fez muitos brasileiros sacarem o dinheiro da previdência privada. O prejuízo aparecia em um saldo menor. Houve uma fuga de recursos dos fundos de previdência. Mas a recuperação dos ativos já fez os planos voltarem a dar retorno positivo aos investidores, e a captação do dinheiro dos planos voltou a subir no fechamento do semestre.
Mas não vencemos a crise. Caso o otimismo com vacinas e remédios contra a covid-19 sofra um novo baque ou tenhamos uma segunda onda muito forte da doença, os ativos financeiros podem, novamente, trazer prejuízo. Investidores de renda fixa têm baixa tolerância a essas oscilações porque prezam pela segurança, mas é preciso ter sangue frio nesses momentos de crise. Fundos de previdência são aplicações de longo prazo, pensados para décadas, e não devem ser sacados por oscilações eventuais durante crises, que tendem a se normalizar. E já estão, alerta o especialista Rogério Braga, sócio da gestora de fundos Quantitas Asset. Os ativos começaram a ter boas perspectivas, como apontam os dados de fechamento do semestre.
— Apesar do nome, a renda fixa também pode oscilar. O “fixo” se refere à modalidade de retorno — argumenta Braga.
Além das taxas, há a marcação a mercado dos ativos. Ela ocorre quando o preço é definido pela negociação de mercado entre comprador e vendedor. Nas crises, os valores dos títulos caem porque há uma corrida de investidores que querem de desfazer. E isso se reflete no saldo diário da sua aplicação, o que não quer dizer que o movimento se manterá. É bom ter atenção e monitorar, claro, mas, em geral, ele é revertido depois. Pergunte para o gestor do seu dinheiro onde ele está aplicado exatamente e quais são as perspectivas. Ele é pago também para responder aos seus questionamentos.
Outro alerta importante é para as taxas que são cobradas usualmente em planos de previdência privada. Assumir o prejuízo de sacar em momento de desvalorização da aplicação, junto com esses outros custos, pode corroer em mais de um terço o patrimônio da aposentadoria. Sem falar que, normalmente, as taxas de administração de planos de previdência privada são as mais altas do mercado.
A rentabilidade que chegou a ser ruim nos planos de previdência também ocorreu em outros investimentos. A taxa de juro Selic, referência da economia, caiu para 2,25% em junho, o que afeta a renda fixa como uma todo. Ao mesmo tempo, as ações de empresas sofreram nos primeiros meses do coronavírus, atingindo fundos que têm parte dos recursos aplicada em renda variável, lembra Braga.
Não faça a escolha errada
Há uma tendência, em alguns casos, de tirar dinheiro da previdência pensando que o valor depositado ali é para um futuro distante e que, depois, o montante pode ser reposto. Mas não é este o raciocínio adequado. É preciso escolher uma aplicação com mais liquidez, como se fala no mercado, que gera menos custo para a retirada do dinheiro, que tenha sido menos afetada pela crise e tenha menos perspectiva de recuperação dos ganhos no futuro. Ou seja, tudo indica que sacar do plano de previdência privada é a escolha errada no mundo.
Sem falar que você também pode perder benefícios fiscais, que são concedidos aos planos de previdência privada nas modalidades Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL) e o Plano Gerador de Benefícios Livres (PGBL). Há a aplicação de tabela regressiva do Imposto de Renda (IR) com alíquotas menores para aplicações de longo prazo. Seria mais um baque no seu patrimônio.
Oportunidade para a portabilidade
Mas se você está incomodado com a rentabilidade do seu fundo de previdência privada, também pode analisar a aplicação em outras instituições financeiras. Em especial, melhores taxas de administração, já que, nas atuais circunstâncias, 1% já é um percentual altíssimo.
Solicite propostas e, se forem mais atrativas, faça a portabilidade, levando seu dinheiro para quem valorizá-lo mais.
Quem aí se lembra da imagem do Tio Patinhas sentado em uma montanha de moedas? Pelos bens do personagem da história em quadrinhos, a Forbes contabilizou que sua fortuna supera US$ 65 bilhões. Tirando um excesso de avareza, sentar no dinheiro é uma expressão usada no investimento de longo prazo. O tempo em que o dinheiro ficará parado é essencial para decidir onde aplicá-lo, considerando de riscos assumidos à tributação. É para comprar um imóvel, pagar a faculdade do filho ou mesmo para a aposentadoria? Quanto mais ficar sem saques e até com novos aportes, mais juro incide em cima de rendimento, elevando o montante final e driblando essas taxas minguadas de hoje.
E longo prazo, pessoal, são anos e anos. Seis meses são curtíssimo prazo e não se consegue muito milagre em tão pouco tempo, a não ser com um aguçado senso de oportunidade, sorte e uma boa dose de risco. Sentar no dinheiro também é a dica para momentos de perda de rentabilidade e até retorno negativo, como ocorreu com planos de previdência no início da pandemia. Em muitos casos, os ativos recuperam seu valor e sacar correndo destrói suas economias. Muita calma nessa hora.