A semana começou com alta das ações da Irani Papel e Embalagem, da Dimed (dona da Panvel e do Lifar) e da Even (que tem a Melnick como subsidiária no Rio Grande do Sul). Dentro da leva de empresas que decidiram aproveitar o otimismo do mercado, as companhias com forte ligação com o mercado gaúcho anunciaram recentemente a oferta pública para venda de papéis e a captação de recursos na bolsa de valores. Todas abriram a segunda-feira (13) com alta. A ação da Irani subia 10% no início do pregão. Em seguida, a Dimed tinha elevação de 6%, sendo que já vinha com valorização nas últimas semanas. Por fim, a Even estava com aumento de 5% nas cotações.
Mesmo com o investidor ainda cuidadoso com o andar da pandemia, a bolsa de valores no Brasil tem conseguido avançar e, na última sexta-feira (10), até fechou um pouco acima dos 100 mil pontos, patamar que tinha perdido em 6 de março. Algumas empresas gaúchas vinham reativando os planos de buscar dinheiro na bolsa para expandir, mas o movimento se acelerou agora no final de semana. Há companhias que já têm ações negociadas em bolsa e irão aumentar seu capital aberto, ofertando mais papéis. Já outras planejam sua estreia, com o chamado IPO (Inicial Public Offering), quando a empresa tem capital fechado e entrará na bolsa pela primeira vez.
A primeira a se movimentar depois de a bolsa dar sinais de melhora foi a Quero-Quero. Com sede em Cachoeirinha e controlada pelo fundo internacional de investimentos Advent, a rede de materiais de construção retomou o processo para ter ações negociadas na bolsa de valores de São Paulo, a B3. A medida vinha sendo estudada há, no mínimo, dois anos, quando o pedido para abertura inicial de capital foi protocolado na Comissão de Valores Mobilários (CVM) em fevereiro deste ano. A empresa já tem mais de 350 lojas e projeta chegar a 600, também está construindo centros de distribuição para sustentar a ampliação dos pontos de venda.
Dias depois, se intensificaram as reuniões da Dimed com investidores. Com sede em Eldorado do Sul, a dona da Panvel e do Lifar já tem capital aberto. Está prevista para agosto a oferta de ações e o montante pode superar R$ 1 bilhão, sendo metade de secundárias, vendidas por outros acionistas - incluindo famílias que controlam o negócio -, e metade de primárias, emitidas pela empresa pela primeira vez.
E ainda nesse domingo (15), a Irani também informou ter retomado a oferta de ações para buscar R$ 600 milhões e migrar para o novo mercado da bolsa de valores. Empresa gaúcha com sede em Porto Alegre, a companhia também havia suspendido o processo em março com a piora da economia com o coronavírus. A Irani começa nesta segunda-feira (13) o procedimento de bookbuilding, que é a análise e formação de preço em conversa com investidores. O valor deve ser fixado em 22 de julho. A empresa atua nos segmentos de papel para embalagens e de papelão ondulado.
No final da noite de sexta-feira (10), a Even também informou que pretende abrir o capital da sua subsidiária Melnick, construtora com atuação no Rio Grande do Sul. Outra companhia que pode trazer novidades a qualquer momento é o Agibank. Antigo Agiplan, o banco tem planos de abrir capital há anos, inclusive já adotando medidas de informação ao mercado de movimentos estratégicos. Adiou os planos bem antes da pandemia, avaliou retomar, pensou em fazê-lo no exterior, mas não se duvida que possa entrar na onda atual de captação de recursos no mercado financeiro.
- Depois do IPO, toda vez que a empresa emite ações novas, vendendo-as com o dinheiro entrando no caixa da empresa, ocorre uma oferta pública primária. Quando é primária, entra dinheiro na empresa. Já quando é secundária, entra dinheiro no bolso dos acionistas, que vendem suas ações diretamente a outros investidores, sem entrar nada na empresa — explica o sócio da gestora de fundos Quantitas Wagner Salaverry.
Buscar dinheiro na bolsa é como uma tomada de crédito. Muitas vezes, é mais barato. Além disso, ter capital aberto eleva a companhia para um patamar diferenciado no mercado. É importante escolher o melhor momento e, por isso, às vezes os planos são adiados. Além disso, há outras estratégias que são adotadas para valorizar os papéis.
De onde vem o otimismo?
O otimismo do mercado parece não refletir a preocupação na chamada "economia real" e muito menos a tristeza que o coronavírus provoca na saúde. Mas lembremos que as bolsas começaram a sangrar com a covid-19 ainda no Carnaval, quando muitos ainda faziam festa no Brasil e foram entender melhor o que teríamos pela frente só um mês depois. O mercado financeiro vive para isso: antecipar. Projetar o reflexo do que está acontecendo ou do que ainda deve ocorrer na economia e na saúde financeira das empresas, para então decidir se compram ou não a ação de uma companhia. Precisam prever se ela irá subir ou cair.
Neste momento, o otimismo do mercado, por mais difícil de compreender que pareça, vem de quedas menores em indicadores econômicos importantes. Seguirá assim? Não sabemos. Pode cair? Pode, caso notícias derrubem a expectativa de uma recuperação em V da economia. Pode subir mais? Ô, se pode. E seria ótimo. A maior alta neste momento seria observada caso tivéssemos a tão sonhada vacina contra o coronavírus. O melhor cenário possível para a economia e, mais ainda, para a saúde.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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