Foram duas semanas que acabaram com o trimestre do PIB, que já não estava tão bem assim. A pandemia foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) pouco antes da metade de março e as restrições fortes na economia brasileira ocorreram nas duas últimas semanas do mês. Viagens foram canceladas, fábricas pararam, estabelecimentos comerciais fecharam e famílias pararam de comprar.
E mesmo antes do isolamento adotado no Brasil, a economia aqui já sentia alguns efeitos externos. O avanço do coronavírus na Europa ainda no Carnaval fez empresas mundiais pisarem no freio, escancarando o que estava por vir. Antes ainda, empresas de informática e automobilísticas percebiam problemas para importar insumos da China.
O PIB, então, caiu 1,5% no primeiro trimestre de 2020, na comparação com o último de 2019. O dado do IBGE veio bem na mosca do que o mercado projetava, interrompendo quatro trimestres de crescimento. Um impacto enorme veio do recuo de 1,6% nos serviços, setor que representa 74% do PIB. É nele que entram setor aéreo, hotéis, restaurantes e lojas fechadas, com o fechamento e despencando o dado de consumo das famílias, que teve o maior recuo desde a crise de energia elétrica de 2001 e pesa 65% no PIB. A indústria também caiu, -1,4%, enquanto a agropecuária cresceu 0,6%.
Uma ponderação vai para o crescimento de 3,1% nos investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo. Economista da Quantitas Asset, João Fernandes pondera que essa alta foi puxada pela importação de máquinas e equipamentos pelo setor de petróleo e gás, ou seja, a Petrobras. A estatal também deixou positivos outros dados de comércio exterior.
Com a queda, a economia brasileira volta a um patamar semelhante ao do segundo trimestre de 2012. Essas duas semanas são apenas a introdução para o que nos espera no segundo trimestre, quando a pandemia segue com seus efeitos fortes. Apesar de algumas flexibilizações, a atividade segue travada, além da insegurança por parte das empresas e famílias.
O aumento do desemprego é a principal preocupação na economia. Dados do Ministério da Economia apontaram o fechamento de mais de 1,1 milhão de empregos com carteira assinada em março e abril no país. Além disso, o IBGE divulgou a pesquisa que considera também os informais e outras formas de trabalho, apontando o fechamento de 4,9 milhões de postos de trabalho no trimestre encerrado em abril.
Uma das instituições consultadas pelo Banco Central para definir o relatório Focus, a Quantitas Asset projeta uma queda de 9,5% no segundo trimestre sobre o primeiro de 2020. Para 2020, a projeção é de um recuo de 7,5%. O último relatório da autoridade monetária trouxe uma mediana de mercado apontando recuo de 5,89%, o pior desempenho da história do PIB, monitorado desde 1900.
#vem2021
O impacto é forte e preocupante, mas investidores, empresas, governo e famílias apostam que a pandemia será vencida quando se achar um remédio adequado que torne a covid-19 uma doença normal e tratável. Ou, no melhor dos mundos, que tenhamos em um prazo médio uma vacina que previna a doença. A comunidade científica do mundo todo busca isso e, com a economia sangrando, não devem faltar fontes de financiamento.
Quando isso ocorrer, a saúde e a economia voltarão a respirar aliviadas e poderão focar com força na recuperação. Para 2021, o Focus, do Banco Central, traz uma projeção de PIB de +3,5%. A Quantitas Asset fala em +3%.
- Mas, ainda assim, será um crescimento sobre uma base baixa, da recessão de 2020. Então, achamos que recuperemos apenas em 2022 o patamar do PIB de fevereiro agora de 2020, antes da pandemia.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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