O preço do petróleo no mercado internacional desabou com a desalaceração da economia global, caindo bem mais do que o dólar sobe com toda essa crise provocada pelo coronavírus, e então não surpreendeu a Petrobras anunciar uma redução de 9,5% no preço da gasolina nas refinarias. A redução, que entrou em vigor nesta sexta-feira (13), poderia ser até mais intensa, segundo as consultorias que acompanham e cruzam dados internacionais das commodities e dos combustíveis.
Assim que a notícia saiu, os leitores começaram a perguntar quando e até questionar se chegaria à bomba. Pela dimensão no corte, ele certamente será sentido pelo consumidor ao abastecer o carro nos próximos dias. Aliás, a coluna já recebeu até relatos de redução em alguns postos, apesar de ainda não ter verificado nos locais por onde circula e nos estabelecimentos que monitora.
Importante lembrar que a Petrobras define preços nas refinarias. E não só da gasolina, mas também do diesel, que teve preço reduzido em 6,5% agora. Já as refinarias vendem para as distribuidoras, que negociam os preços com os seus clientes, que são os postos de combustível. E os valores são diversos. Também não há tabelamento na bomba, onde é o dono no posto que define o preço conforme sua planilha, que inclui do preço cobrado pela distribuidora, impostos, folha de pagamento, margem de lucro, entre outros itens.
— A partir de agora, as distribuidoras devem iniciar os repasses da redução. Geralmente, elas represam algo no início para irem administrando na sequência, de acordo a concorrência em cada região — explica o presidente do Sulpetro-RS, João Carlos Dal'Aqua, que representa os postos de combustível do Rio Grande do Sul.
Então, para a redução da refinaria chegar na bomba tem um caminho a ser percorrido. Aliás, ele depende também, é claro, do giro do estoque já comprado de gasolina, o que é relativamente rápido. Alguns optam por reduzir antes por terem espaço para isso e até para usar como atrativo para o consumidor, passando na frente da concorrência.
Há ainda um fator muito relevante, que é a carga tributária e que tanto pesa no preço que pagamos pela gasolina. No caso do ICMS, em especial, a alíquota é calculada em cima de um preço determinado pela Receita Estadual e que não tem alteração imediata, ou seja, o imposto segue mais alto por algum tempo.
— A questão dos tributos continua como principal entrave. Para a próxima quinzena, a Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul manteve o preço de pauta igual R$ 4,70 para calcular os 30% do ICMS. Além disso, tem Cide, PIS e Cofins, que chegam a representar algo em torno de 16% do preço final. São taxas de contribuição com valores fixos por litro definidos pelo governo federal e cobradas nas refinarias — complementa o presidente do Sulpetro-RS.
Por fim, as reduções de agora nas refinarias devem aparecer com mais força nas bombas na próxima semana e até mais adiante. O preço do petróleo até está em alta nesta sexta-feira (13) no mercado internacional, mas longe de recuperar o patamar de antes da briga entre Arábia Saudita e Rússia pelas cotações.
Cautela ao comemorar
Desde que a Petrobras mudou sua política de preços da gasolina e do diesel, o brasileiro tem aprendido a associar as quedas e altas do petróleo no mercado internacional a repasses para as bombas. Com o avanço do coronavírus, a economia global dá sinais de desaceleração, o que reduz o consumo de combustíveis e provoca queda no preço do "ouro negro".
Isso vinha se intensificando nas últimas semanas, inclusive fazendo a Petrobras já cortar os preços nas refinarias. A última redução tinha ocorrido no final de fevereiro, quando os preços do diesel foram cortados em 5% e os da gasolina, em 4%.
É de comemorar? Infelizmente, não. Há outras implicações fortes dessa tensão política e econômica, sem contar que o avanço do coronavírus gera preocupação social, além de elevação de gastos. A redução no preço dos combustíveis por esses motivos não é saudável. O mercado financeiro sabe disso, provocando a queda nas bolsas neste início de semana.
Como exportadora, o caixa da Petrobras sofre com a queda brusca no preço do petróleo. Lembrando que a empresa é uma das maiores do Brasil, movimenta cadeias econômicas inteiras e tem muitos acionistas, inclusive os pequenos que aplicaram nela seu FGTS. Químico industrial, Marcelo Gauto ainda projeta efeitos de prazo mais longo. A queda brusca no preço do petróleo provoca um efeito rebote.
— Alguns produtores reduzem investimentos e a produção começa a declinar. Os preços sobem por essa redução, algo que demora a se recuperar. Quanto mais longa for essa redução de preços, mais grave pode ser o efeito lá adiante — diz ele.
Na bomba
A pesquisa da Agênia Nacional do Petróleo (ANP) tem apontado reduções de preços na gasolina comum. Recentemente, foram cinco semanas de corte, uma de estabilidade e a última trouxe mais uma pequena queda. No último levantamento, o litro estava em R$ 4,65.
O pico histórico de preço da gasolina nos postos gaúchos foi em outubro de 2018, quando o petróleo estava em forte alta no mercado internacional. Naquela época, a ANP chegou a divulgar uma média de R$ 4,95 no Estado.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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