O dólar não afeta só quem tem planos de abraçar o Mickey, na Disney. O impacto chega direta e indiretamente até no pão nosso de cada dia, literalmente. Isso porque os moinhos importam grande parte do trigo que usam para fazer a farinha que depois será usada para fabricar do cacetinho às massas e biscoitos.
Aliás, o preço do pão deve subir. Vice-presidente do Sindicato das Panificadoras do Rio Grande do Sul (Sindipan-RS), Arildo Bennech Oliveira conta que as padarias estão segurando o aumento do dólar para ver se a cotação recua. No entanto, o repasse pode ser necessário em setembro.
— Os moinhos já anunciaram e estão praticando um preço com 10% de aumento. Se persistir, vamos ter que reajustar os preços até porque não é só o trigo. Temos outros insumos, como soja, além do dissídio da categoria. Acredito que, a partir de setembro, não tem mais como absorver os aumentos.
O dólar fecha acima de R$ 4 há quatro pregões consecutivos. O Banco Central tem feito leilão da moeda, mas ela não cede. Com pouco poder de mudar o preço, a intervenção tem servido mais como alerta de que a autoridade monetária está de olho. O câmbio só não preocupa mais porque a economia fraca segura a inflação baixa. Se não, iria até mesmo comprometer a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na próxima reunião, para quando há expectativa de novo corte de 0,5 ponto percentual. Só em agosto, a alta da moeda gira em torno de 7% no Brasil.
Ainda sobre impactos para consumidor, a Associação Gaúcha de Supermercados diz que as commodities estavam "esgueladas", ou seja, aguentando para não terem o repasse. No entanto, algumas já tiveram aumentos. Na última semana, o óleo de soja subiu 8% e o preço do açúcar aumentou em 5%. Sem falar no que vem importado diretamente, como vinhos, cervejas e especiarias sempre trazidas do exterior.
Medicamentos e produtos de limpeza, por exemplo, usam muitos insumos importados. O impacto ocorre, mas depende do estoque e da negociação ao longo da cadeia econômica de cada setor.
Segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), quase metade dos brinquedos vendidos no Brasil é importada. Principalmente, da Ásia. Mesmo que a origem do produto não seja um país que trabalhe com o dólar, a moeda é usada nas negociações internacionais e é o principal parâmetro de câmbio. Deverá haver impacto já no Dia da Criança, em outubro.
E não está descartado reflexo já nas encomendas do varejo para o Natal. Muitas roupas e calçados são importados. Até mesmo aqueles que depois são etiquetados com marcas brasileiras.
Para não dizer que não falamos em gasolina, saibam que até mesmo ela tem impacto do dólar. O Brasil exporta petróleo e importa o combustível pronto. Ou seja, fica sensível ao câmbio também, que é um dos fatores observados pela Petrobras para definir o preço nas refinarias, que vendem para as distribuidoras, que repassam aos postos de combustível. O repasse de alta só não ocorreu, certamente, porque o preço do petróleo tem caído com a expectativa de queda na demanda mundial, com o receio de desaceleração da economia global. Mas, se não subiu, não está caindo como poderia.