O dólar subiu 1,190% e foi a R$ 4,079 nesta quinta-feira (22), com a piora do cenário externo. Investidores temem que o banco central americano (Fed) não corte juros na reunião de setembro. Além disso, dados de agosto voltam a indicar uma desaceleração da indústria americana e europeia.
A aversão a risco pressionou a maioria das moedas emergentes, que se desvalorizaram frente ao dólar. Dentre elas, o real liderou as perdas, depois de duas sessões de valorização, e foi para o pior patamar desde 20 de maio. O Ibovespa acompanhou o cenário negativo e recuou 1,18%, mas manteve os 100 mil pontos.
O aumento da liquidez da moeda americana no pregão levou a compra de todo o lote ofertado pelo Banco Central de dólares à vista. Foram arrematados US$ 550 milhões e 11 mil contratos de swap cambial.
— Hoje a alta do dólar se deve à piora do cenário externo. O leilão do BC não influi tanto no câmbio. É mais um recado do banco de que ele está atento a alta do dólar e age para tirar um pouco de volatilidade do mercado, mas não é capaz de fazer preço — afirma Fabrizio Velloni, chefe da mesa de operações da Frente Corretora.
Nesta quinta, dois integrantes do Fed se posicionaram contra um novo corte na taxa básica de juros. Agora, são três declarações contrárias a estímulos monetários na próxima reunião. A expectativa sobre a decisão do banco também paira sobre a reunião de seu presidente, Jerome Powell, que fará um discurso na sexta (23), no simpósio de Jackson Hole, no estado americano do Wyoming. O receio de manutenção do juros americanos levou investidores a operarem em movimento defensivo e retirarem recursos de emergentes.
Outro resultado foi a inversão da curva de juros americana para os títulos do tesouro de 10 anos e de dois anos pela manhã. Os rendimentos se inverteram na semana passada, com a piora do cenário global. Ao fim do dia, as aplicações fecharam cotadas com rendimentos equivalentes. O rendimento maior de uma aplicação de curto prazo, em detrimento de uma aplicação de longo prazo, é visto como um predecessor de recessão econômica.
Dados da consultoria IHS Markit divulgados nesta quinta também contribuem para esta leitura. A atividade da indústria americana também caiu da leitura neutra — de 50 pontos — pela primeira vez em dez anos e foi para 49,9 pontos.
Na Alemanha, a consultoria indicou uma leve melhora na indústria do país. O emprego no setor, no entanto, cai da forma mais rápida em sete anos. Já os pedidos em fábricas e companhias de serviço caem no ritmo mais rápido em seis anos.
Outro sinal de piora é que, em agosto, a maioria das companhias do país espera reduzir a produção. Antes, a maior parte das empresas esperava aumentar a saída. É a primeira vez que há a inversão de expectativas desde 2014.
A ata da última reunião do banco central europeu, que indica um pacote de estímulos, não foi o suficiente para reverter o cenário negativo, impulsionado também pela dificuldade de acordo para o Brexit, e as bolsas da Europa fecharam em queda. Londres recuou 1,05%, Paris, 0,87% e Frankfurt, 0,47%.
Em Nova York, S&P 500 se manteve estável, enquanto Nasdaq caiu 0,36%. O índice Dow Jones destorou e subiu 0,19%, impulsionado pela forte alta de 4,2% da Boeing. A companhia aérea planeja aumento de produção de jatos 737 MAX.
No Brasil, o Ibovespa recuou 1,18%, a 100.011 pontos. O giro financeiro foi de R$ 14,875 bilhões, abaixo da média diária para o ano.
A Eletrobras foi uma das maiores altas do índice e bateu novas máximas. As ações ordinárias, com direito a voto, da companhia subiram 4%, a R$ 46,83. As preferenciais tiveram alta de 4%, a R$ 46,81. Na quarta (21), o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que votaria o projeto de lei para a privatização da estatal o mais rápido possível.