O dia 12 de Outubro é de tríplice festa, mas nem sempre foi só assim. Não era ainda o Dia da Criança nem o de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, quando a data mudou a face do mundo numa mistura de espanto, alegria e medo.
Há 527 anos, a 12 de Outubro de 1492 as caravelas de Cristóvão Colombo chegaram ao Caribe seguindo os mapas marítimos de Américo Vespucio. E o que eles pensavam que fosse a Índia Ocidental, chamou-se América.
Anos depois, em 1500, Pedro Álvares Cabral aportou mais ao sul, em terras semelhantes e o medo se confirmou: haviam chegado ao Paraíso. Mas, por que medo, se ali a exuberante natureza convivia com gente sem maldade nem cobiça, que andava nu sem perversão e cheirava bem até sem sabão?
Aqueles europeus que não se banhavam mas conheciam o crime, sentiram-se no Éden, o paraíso do livro sagrado. E a rígida teologia da época entrou em transe e em crise. A tradição religiosa ocidental tremeu.
A Torah judaica e a Bíblia cristã seriam inexatas ou mentiam? O "pecado original" que extinguiu o Paraíso e nos fez "amassar o pão com o suor do rosto" era invenção? O Éden ainda existia e só havia mudado de lugar?
Na época, a teologia dominava o mundo. Era como os economistas que hoje assessoram os políticos e preveem o passado com exatidão sem apontar qualquer trilha do futuro. Atônitos com a ideia de que o Éden ainda existisse, os teólogos deixaram o dia a dia assimilar o que eles não explicavam.
E cada vez mais nos distanciamos da sacralidade da vida, destruindo o Planeta, como se tivéssemos raiva de habitá-lo.
Agora, a tríplice data quase só se festeja pelo trivial – o Dia da Criança, criado para presentear, nunca para fazer a criança brincar, dialogar e entender o mundo. Esquecemos até o dia de 1717, em que um pescador encontrou a imagem de Maria no Rio Paraíba do Sul e surgiu, então, Nossa Senhora Aparecida. Hoje, como outros, o rio envereda rumo à poluição.
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Se, alheios a tudo, não avaliamos sequer o passado, por que iremos nos preocupar com o futuro?
Ou com "o futuro do futuro", majestoso título do debate que juízes estaduais e federais, membros do Ministério Público (através de suas associações) e a OAB promovem dia 14, sobre as leis de proteção ambiental. O painel das 14h, presidido pela juíza Patrícia Laydner, avaliará as mudanças ao Código Estadual do Meio Ambiente propostas pelo governo de forma impositiva, a serem votadas "em urgência", praticamente sem debates. Será correto que nosso código (hoje modelo no país) facilite destruir a natureza?
Em nota aos deputados, o Sindicato dos Engenheiros repudiou (sim, repudiou) que as mudanças se votem sem ampla discussão, e apelou ao governador para que modifique a proposta. De fato, além do presente, está em jogo o futuro do futuro.