Qualquer um pode fantasiar ou inventar que é aquilo que nunca será. Ou, até, imaginar que tem o mundo a seus pés. Mas ninguém pode fantasiar-se de supremo rei-mandão e pretender mandar. Menos ainda quem governe 240 milhões de pessoas e fale em nome delas para o mundo, tal qual fez Jair Bolsonaro na ONU.
Sonho, devaneio ou alucinação são primos entre si e, às vezes, se entremeiam como numa teia de aranha, aprisionando tudo o que caia. Mas nem isso explicaria que o presidente do Brasil usasse a ONU para atacar inimigos imaginários no país e no exterior. Nem no aceso da "Guerra Fria", nos anos 1960-70, a ONU serviu à violência verbal.
Em absurda invencionice, Bolsonaro disse que o dinheiro desviado dos cofres públicos "comprou os meios de comunicação" (imprensa, rádio e TV) que hoje apontam a inação do governo na proteção da Amazônia e do meio-ambiente. Chamou de "mentirosa" a imprensa nacional e internacional por alertar sobre a devastação. Atacou Raoni e, assim, indiretamente o Papa, que o recebeu no Vaticano e se interessou pelos relatos do cacique sobre a devastação amazônica. O presidente trocou alhos por bugalhos e chamou de "cobiça" e de "colonialismo" a preocupação mundial em defesa do meio ambiente, como se isso ferisse nossa soberania.
Nada disse, porém, sobre sua ausência à Cúpula do Clima, ocorrida 48 horas antes, na própria sede da ONU, em Nova York, presentes chefes de governo do mundo inteiro. Até Trump esteve lá…
Por que Bolsonaro estaria presente se, até, ameaçou retirar o Brasil do "Acordo de Paris", que uniu governos e cientistas na missão de proteger o clima para evitar o colapso da vida no planeta?
Pode-se tratar o clima como um problema individual, que se resolve ligando o botão do ar refrigerado da casa?
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Antes do discurso do presidente do Brasil, o secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, sintetizou as conclusões da Cúpula Mundial sobre o Clima:
– É urgente mudar até a linguagem para chegar às ações. Hoje, já não se trata do perigo das "mudanças climáticas", mas, sim, de enfrentar a "crise climática" que cresce e nos ameaça – afirmou.
Cada vez mais sabemos que o mundo é um só e que a soberania política e econômica das nações leva a integrar os povos através da ciência e da tecnologia. Por que, então, afastar o Brasil do diálogo internacional, nos fazendo pequenos mesmo com nossa dimensão continental?
P.S. Domingo, a partir das 15 h no Parque da Redenção, a Marcha Gaúcha pelo Clima alertará sobre as pequenas e grandes ameaças à vida.
Na segunda-feira, dia 30, no auditório da Assembleia Legislativa, a Comissão de Saúde e Meio Ambiente promove (às 18 h) um debate público sobre os impactos do projeto da mina de carvão a céu aberto, junto ao Jacuí, a 10 km da Capital.